Estranha Crise
Emmanuel
"Existe uma crise estranha - e das que mais afligem os
povos - francamente inacessível à intervenção dos poderes públicos, tanto
quanto aos recursos da ciência nas conquistas modernas. Referimo-nos à crise da
intolerância que, desde o travo de amargura, que sugere o desânimo à violência
do ódio, que impele ao crime, vai minando as melhores reservas morais do
Planeta, com a destruição conseqüente de muitos dos mais belos empreendimentos humanos." - Emmanuel
O mundo vem criando soluções adequadas para a generalidade
das crises que o atormentam.
A carência do pão, em determinados distritos, é suprida, de
imediato, pela superprodução de outras faixas de terra.
Corrige-se a inflação, podando a despesa.
O desemprego desaparece pela improvisação de trabalho.
A epidemia é sustada pela vacina.
Existe, porém, uma crise estranha - e das que mais afligem
os povos - francamente inacessível à intervenção dos poderes públicos, tanto
quanto aos recursos da ciência nas conquistas modernas.
Referimo-nos à crise da
intolerância que, desde o travo de amargura, que sugere o desânimo à violência
do ódio, que impele ao crime, vai minando as melhores reservas morais do
Planeta, com a destruição conseqüente de muitos dos mais belos empreendimentos
humanos.
Para a liquidação do problema que assume tremendo vulto em
todas as coletividades terrestres, o remédio não se forma de quaisquer
ingredientes políticos e financeiros, por ser encontrado tão-somente na
farmácia da alma, a exprimir-se no perdão puro e simples.
O perdão é o único antibiótico mental suscetível de
extinguir as infecções do ressentimento no organismo do mundo.
Perdão entre
dirigentes e dirigidos, sábios e ignorantes, instrutores e aprendizes,
benevolência entre o pensamento que governa e o braço que trabalha, entre a chefia
e a subalternidade.
Consultem-se nos foros - autênticos hospitais de relações
humanas - os processos por demandas, questões salariais, divórcios e desquites
baseados na intransigência doméstica ou na incompatibilidade de sentimentos,
reclamações, indenizações e reivindicações de toda ordem, e observe-se, para
além dos tribunais de justiça, a animosidade entre pais e filhos, a luta de
classes, as greves de múltiplas procedências, as queixas de parentela, os
duelos de opinião entre a juventude e a madureza, as divergências raciais e os
conflitos de guerra, e verificaremos que, ou nos desculpamos uns aos outros, na
condição de espíritos frágeis e endividados que ainda somos quase todos, ou a
nossa agressividade acabará expulsando a civilização dos cenários terrestres.
Eis por que Jesus, há quase vinte séculos, nos exortou
perdoarmos aos que nos ofendam setenta vezes sete, ou melhor, quatrocentos e
noventa vezes.
Tão-só nessa operação aritmética do Senhor, resolveremos a
crise da intolerância, sempre grave em todos os tempos. Repitamos, no entanto,
que a preciosidade do perdão não se adquire nos armazéns, por que, na essência,
o perdão é uma luz que irradia, começando de nós.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel. Do livro "Mãos Unidas".
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