A Concepção de Maria
Segundo o Espiritismo
André Luiz Alves Jr.
Maria de Nazaré é certamente uma das figuras mais
emblemáticas e importantes da era cristã, não somente por receber a missão de
trazer ao mundo Jesus, mas também pela forma com a qual conduziu o Mestre,
sempre demonstrando amor, fé e sabedoria, mesmo durante o calvário de seu
filho.
Boa parte dos cristãos enxerga Maria como uma santidade,
outros, apenas a mulher que trouxe ao mundo o Messias.
Em comum, há no mínimo
um grande respeito pela personalidade mariana.
Através de diversas
manifestações de fé e religiosidade pelo mundo, Maria recebeu diferentes nomes,
e é lembrada de diversas formas, tornando-a um grande vulto do Cristianismo.
O médium Divaldo Pereira Franco, psicografando na Casa de
Maria, Mãe de Jesus.
A História de Maria
A história da genitora do Mestre de Nazaré, para muitos, é
cercada de mistérios desde o período que antecede a seu próprio nascimento no
plano físico.
Segundo os registros contidos no Protoevangelho de Tiago[1],
Maria era filha de Joaquim, um judeu de posses que vivia na região de Nazaré, o
qual sempre oferecia doações aos pobres e oferendas aos templos.
Tiago narra
que, em certa feita, um sacerdote chamado Ruben proibiu Joaquim de realizar
doações, pois o mesmo não havia gerado nenhum rebento em Israel, o que
contrariava as leis judaicas.
Joaquim, diante das circunstâncias, caiu em
profunda tristeza e decidiu jejuar por 40 dias e 40 noites em uma montanha
deserta, dizendo a si mesmo:
"Não voltarei ao lar nem pra comer ou beber,
até que o senhor venha visitar-me. As minhas orações me servirão de bebida e
comida aqui no deserto".
Enquanto isso, em sua casa, Ana chorava a
ausência do marido, dividida entre a dúvida da viuvez e a culpa da
esterilidade.
Até que um dia, em meio a suas súplicas, Ana recebe a visita de
um "anjo" que lhe disse:
"Ana, Ana, o senhor ouviu as tuas
preces.
Eis que conceberás e darás a luz a um filho.
E o fruto do teu ventre
será conhecido em todo mundo".
No mesmo dia, Joaquim, ainda sobre a
montanha, avista dois mensageiros de Deus que lhe dirigiram a palavra:
"Joaquim,
o senhor ouviu tuas preces, desce daqui e vai a Ana, tua mulher, porque ela
conceberá em seu ventre".
Desta forma, Joaquim retornou ao lar e, pouco
tempo depois, Ana engravidou e deu a luz a uma menina, a qual recebeu o nome de
Maria.
Ao completar 3 anos, Maria é levada por seus pais ao templo
judaico e lá permanece sob a tutela dos sacerdotes até os 12 anos, idade em que
deveria ser retirada do templo, antes do período de sua menarca[2].
O problema
é que, nessa época, Maria já havia se tornado órfã.
Foi então que os sacerdotes
reuniram os viúvos da região e, através da orientação de um "anjo",
escolheram José para recebê-la.
Segundo o apócrifo atribuído a Tiago, José era um homem
idoso, portanto, bem mais velho que Maria.
Seu dever era proteger a jovem, que
era considerada pelos representantes do judaísmo uma enviada de Deus, portanto,
a mesma permaneceu intocada.
A Concepção da Virgem segundo a Tradição
O maior mistério atribuído a Maria, pelo menos para os mais
religiosos, indubitavelmente é o que diz respeito à concepção virginal.
Os
evangelhos canônicos de Lucas e Mateus contam que Maria manteve-se virgem e que
Jesus fora concebido pelo "Espírito Santo", ou seja, a fecundação de
Maria aconteceu de forma "milagrosa", sem a participação de um pai
natural.
De acordo com as escrituras sagradas, Maria recebeu a visita
do anjo Gabriel, o qual anunciou à jovem sua concepção através da intervenção
do "Espírito Santo".
A partir de então, Maria fora acolhida por sua
prima Isabel, mãe de João Batista, pois José tivera que se ausentar por um
período para trabalhar.
Ao retornar, o marido de Maria se deparou com a mesma,
já no sexto mês de gravidez, não acreditando na fidelidade da virgem.
Então,
José é visitado por uma entidade angelical que lhe esclarece a situação.
Depois
deste evento, a mãe de Jesus segue tranquilamente sua gestação até o nascimento
do enviado de Deus, que ocorreu através de um parto fisiológico, conforme a
história que todos conhecem.
A Concepção de Maria segundo o Espiritismo
O Espiritismo é uma ciência de observação e ao mesmo tempo
uma doutrina filosófica de consequências religiosas, que trata da natureza,
origem e destino dos Espíritos e de suas relações com a vida material.
Além
disso, a Doutrina Espírita nos convida a desenvolver uma fé raciocinada,
analisando os fatos de forma coerente, buscando compreender a razão daquilo que
acreditamos.
Allan Kardec defende que a religião deve caminhar em consonância
com a ciência, de modo que a primeira não ignore a última e vice-versa.
E é
baseado nesses princípios que analisaremos a questão proposta neste artigo.
Para algumas religiões, a concepção de Maria é tida como um
milagre, através da ação do "Espírito Santo".
Este fato, explicaria
uma fecundação assexuada.
Já segundo a Doutrina Espírita, não existem milagres,
todos os acontecimentos fazem parte da Lei Natural, criada por Deus em sua
infinita perfeição, desta forma, não há a necessidade de o Criador realizar
milagres para provar sua grandiosidade.
A questão dos milagres para o
Espiritismo é elucidada em "A Gênese", no tópico, "Faz Deus
milagres?":
"Não sendo necessários os milagres para a glorificação
de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais.
Deus não
faz milagres, porque, sendo como são perfeitas as suas leis, não lhe é
necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos
faltam os conhecimentos necessários".
O fato de Jesus ter sido gerado de forma milagrosa contraria
as vias normais de reprodução, e para o Espiritismo esta é uma questão
relevante, uma vez que a reprodução humana é uma consequência das Leis Naturais
de Deus.
A doutrina codificada por Allan Kardec não nega a
participação do "Espírito Santo" na concepção de Jesus, até porque
sua reencarnação foi minimamente planejada pela espiritualidade superior (aqui
entra a participação do "Espírito Santo"), entretanto, a fecundação
de Maria se deu por vias normais, através de relação sexual entre ela e José,
como acontece entre todos os casais.
Mas então, como surgiu o mito da virgindade de Maria?
Acredita-se que a Igreja tenha disseminado essa tese, a fim
de diminuir a promiscuidade entre as pessoas.
A prática sexual naquela época
era permitida apenas com o intuito de procriação, isso para não provocar a
extinção da raça humana.
Quanto menor fosse a relação sexual entre os casais,
menores seriam os seus pecados.
Jesus com o passar do tempo tornou-se uma figura mitológica
e, como sendo um Deus, não poderia ter nascido do pecado original cometido por
Adão e Eva.
Apesar dessas considerações, o Novo Testamento utiliza o termo
"O Filho do Homem" 88 vezes.
Esse termo refere-se a Jesus como um ser
humano, e como tal, seu nascimento só poderia ter acontecido de forma natural.
Nas epístolas de Paulo, que são os registros mais antigos
contidos na Bíblia, não há evidências da virgindade de Maria; o apóstolo
refere-se a ela apenas como a mãe de Jesus.
Os evangelhos bíblicos reforçam
ainda que Maria e José tiveram outros filhos, não podendo persistir a
virgindade de Maria:
"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua
mãe? Não são seus irmãos Tiago, José Simão e Judas?" (Mateus 13, 55)
A grande diferença em tudo isso é que o Espiritismo não
interpreta o ato sexual como um pecado.
O que torna o sexo imoral é como as
pessoas o praticam.
Não devemos viver para a prática sexual, mas o sexo é
importante para gerar a vida, sendo um mecanismo natural do ser humano.
A Visão do Espiritismo sobre Maria
É certo que Maria faz parte de um grupo de Espíritos
evoluídos que vieram para preparar a chegada de Jesus.
É um Espírito tão puro,
que recebeu a missão nobre de conduzir o governador da Terra, modelo e guia da
humanidade.
Maria é sinônimo de amor, prova disto foi a sua resignação
ao presenciar o sofrimento de seu filho, em nome da salvação da humanidade.
E é
por isso que este Espírito desperta tanta simpatia e admiração entre as
pessoas.
Há quem acredite que pedir a intercessão de Maria é o método mais eficaz
de se chegar a Jesus, pois um filho não negaria o pedido de uma mãe.
Na literatura espírita, encontramos vários registros sobre
Maria na espiritualidade.
O livro Memórias de um Suicida descreve as atividades
da Legião dos Servos de Maria, um grupo de Espíritos especializados no resgate
de suicidas nas zonas inferiores.
Após o socorro dos réprobos, os mesmos são
encaminhados ao Hospital Maria de Nazaré.
Esta instituição é dirigida pela mãe
de Jesus.
Camilo Cândido Botelho, autor espiritual desta obra, relata que a
tarefa de cuidar de Espíritos suicidas não poderia ser desempenhada por outro
Espírito a não ser Maria, por ela ser a referência de amor e de dedicação
fraternal.
Além disso, milhares de fiéis pelo mundo todo dedicam sua fé
e devoção a Maria.
Em virtude disso, existem Espíritos abnegados que trabalham
em seu nome, recebendo os pedidos e as orações e auxiliando aqueles que sofrem.
É importante ressaltar que a Doutrina Espírita alimenta um
profundo respeito a qualquer forma de convicção religiosa, mesmo
posicionando-se de forma diferente.
E sabemos que Maria é um Espírito de luz e
trabalha ao lado de Jesus em benefício da humanidade.
Referências:
A Epístola Lentuli - Pedro de Campos.
A Gênese - Allan Kardec.
O Evangelho de Tiago - Autor desconhecido.
Memórias de um Suicida - Yvonne A. Pereira, pelo Espírito
Camilo Cândido Botelho.
[1] Este apócrifo também conhecido como "Livro de
Tiago" ou, ainda, "A Natividade de Maria", tem sua autoria e
data atualmente tidas como desconhecidas, embora o autor se identifique como
Tiago. Muitos estudiosos consideram o seu texto muito remoto, anterior mesmo
aos Evangelhos Canônicos ou até à base deles.
Os Pais da Igreja, Orígenes, Clemente, Pedro de Alexandria,
São Justino e São Epifânio citam este evangelho com muita frequência.
[2] Primeira Menstruação.
*André Luiz Alves Jr. E mail : locutorandreluiz@hotmail.com - São
José dos Pinhais, PR (Brasil)
Fonte:
ALVES JR, André Luiz .A
Concepção de Maria Segundo o Espiritismo.
O CONSOLADOR. Disponível em http://www.oconsolador.com.br/ano7/320/andre_luiz.html.
Acesso: 12 OUT 2014.
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