A fundamental compreensão
O filósofo contemporâneo Edgar
Morin afirma que a compreensão é fundamental para vivermos no século XXI.
Como as interdependências se
multiplicam, como a comunicação se intensifica, o problema da compreensão se
tornou crucial, segundo ele.
E, ao tratar do tema, Morin
propõe uma ética da compreensão.
Essa ética parte do princípio que
devemos compreender desinteressadamente, sem esperar reciprocidade.
Exige muito mais do que só
compreender aquele mais próximo. O grande desafio será compreender o que
consideramos diferente, o distante.
Assim nos perguntamos, como
compreender o inimigo, aquele que nos deseja o mal e quer nos prejudicar?
Como compreender o assassino, o
déspota, o mau?
Esse exercício de compreensão é
muito mais desafiador.
É o desafio de se analisar, de se
argumentar, ao invés de anatematizar, excomungar, diz Edgar Morin.
Compreender o próximo é exercitar
a aproximação, a empatia, muitas vezes, a solidariedade.
Compreender não significa
aceitar, concordar, ser conivente.
É o exercício de mergulhar no
universo do outro, entender seus valores, suas motivações, para identificar a
causa de suas ações.
No dizer de Morin, a compreensão
não desculpa nem acusa. Pede apenas que se evite a condenação definitiva,
irremediável, como se nós mesmos nunca tivéssemos conhecido a fraqueza, nem
houvéssemos cometido erros.
Compreender é humanizar o
próximo, entendendo que tantas vezes também teremos necessidade de sermos
compreendidos.
Assim, antes de julgar, avaliar,
analisar, buscar compreender.
* * *
Afrontado pela turba prestes a
apedrejar a mulher adúltera, Jesus usou da compreensão.
E conclamou aquelas pessoas a
imitá-lO, mostrando que todos nós estamos sujeitos a erros e tropeços.
Foi por esse motivo,
compreendendo suas próprias fragilidades, que um a um, os homens foram deixando
a praça pública, deitando as pedras ao solo, como descrevem os Evangelhos.
Mulher, onde estão os teus
acusadores? Ninguém te condenou? Perguntou-lhe o Mestre. Eu também não te
condeno.
Era o exercício da compreensão,
não da conivência.
Por isso, conclui o diálogo
aconselhando-a: Vai e não tornes a pecar.
Deixa claro que o erro existia,
porém ensinando que a compreensão é a grande lição a ser aprendida.
Assim, antes de julgarmos outra
pessoa, busquemos a compreensão.
Talvez sua grosseria seja apenas
a dificuldade em lidar com os problemas profundos que traz em seu cotidiano.
Ainda, a agressividade de outrem
pode ter-se originado em raízes profundas de desestruturação familiar e social.
Afinal, logo mais seremos nós os
necessitados da compreensão alheia, frente aos prováveis deslizes que surgirão.
Como bem analisa Edgar Morin, se
soubermos compreender antes de condenar, estaremos no caminho da humanização
das relações humanas.
Redação do Momento Espírita, com
base no cap. VI, do livro Os sete
saberes necessários à educação do futuro,
de Edgar Morin, Cortez Editora.
Disponível em www.momento.com.br.
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