3.
CONTRA-SENSO
Valérium
Alguém bate
à porta principesca.
Ela, a dona
da casa, atende.
Abre a porta
e encontra pobre velhinho à frente.
Andrajoso.
Cansado. Feridento.
É um pedinte
que roga auxilio.
Fria e
insensívelmenlte, ela despede o visitante, dizendo nada ter que possa dar.
E volta.
resmungando à intimidade doméstica, maldizendo o infeliz.
— É
malandro! — declara.
E
acrescenta:
— Para
vadios, só a cadeia.
Nisso,
pequeno rato desliza-lhe pelos pés.
Assustadíssima,
clama por socorro. Chora.
Fecha-se,
superexcitada, em quarto próximo, a lastimar-se.
Bate-lhe o coração fortemente, as mãos tremem, a face está lívida e, por fim, depois de um copo d’água, procura o festejado gato de estimação para exterminar o camundongo.
*
Assim são
muitas de nossas comoções.
Não vibramos ante os quadros dolorosos que pedem ajuda e agitamo-nos, agoniados, diante de incidentes banais.
*
Amigo, controle a sensibilidade, vigiando reações e policiando as ideias, para que o rendimento maior dos seus dias, à luz do Evangelho Vivo, seja realidade em seu caminho.
Recorde que
muita gente na Terra enfeita gatinhos prediletos e se enoja diante de irmãos em
luta.
E há milhares de almas outras que exibem clamorosa frieza ante os apelos do bem e mostram imensa emoção à frente de um rato.
VIEIRA,
Waldo pelo Espírito Valérium. Bem aventurados os simples. Rio de Janeiro:
FEB,10ª ed., 1962, cap. 3.
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