Minutos de Paz !

sábado, agosto 08, 2009





A Vontade como Fator para o Desenvolvimento Espiritual do Ser



Alírio de Cerqueira Filho



Dentro de uma abordagem transpessoal a vontade para estar plenamente desenvolvida deve ser considerada como tendo vários atributos, quais sejam: FORÇA (poder), HABILIDADE (inteligência), BOA DIREÇÃO (amor) E SIGNIFICAÇÃO ESPIRITUAL (sentido da vida).



Para desenvolver a vontade é preciso começar pelo reconhecimento de que ela existe; depois, que temos uma vontade; e, finalmente, que somos essa vontade.



A partir disto é necessários analisar cada um dos seus atributos.



Estudemos a seguir cada um deles:



FORÇA (poder): a força é, em certo sentido, o mais fundamental e também o mais íntimo aspecto da vontade.



Na força da vontade reside o seu poder, a sua energia.



Ao desenvolver a força de vontade, certificamo-nos de que um ato de vontade contém suficiente intensidade, para levar avante um propósito.



Todas as pessoas a possuem, pois é característica inerente do Ser Essencial que somos, mas são poucos que utilizam esta força.



A maioria a mantém débil durante muito tempo, mas mesmo assim ela continua existindo em estado latente até que o indivíduo tome a decisão de utilizá-la.



Para desenvolver a vontade devemos torná-la suficientemente forte para podermos realizar o nosso propósito de vida.



A força de vontade é o primeiro passo para o seu desenvolvimento, porém, devemos cuidar para que desenvolvamos os demais atributos da vontade, sob pena de, se não o fizermos incorrermos em prejuízos para nós próprios.



A maioria dos mal-entendidos e equívocos a respeito da vontade advém da concepção, tão errônea quanto freqüente, de que a força constitui a totalidade da vontade.



Ora, a força é apenas um dos aspectos da vontade e, dissociada dos demais, pode ser, e não raro realmente é, ineficaz e prejudicial à própria pessoa e aos outros.



Quando utilizamos apenas a força de vontade é comum nos forçarmos a realização de um propósito.



Este é um movimento em que normalmente tem o seguinte padrão de crença limitadora "Eu tenho que fazer isto" ou "Eu preciso realizar isto".



Isso pressupõem uma obrigação e não uma conscientização.



Todas as vezes que nos forçamos obrigando-nos egoicamente a algum objetivo o qual achamos que temos que realizar, o ego reage, determinando exatamente o contrário daquilo que desejamos, num movimento de auto-sabotagem.



Esta reação do ego será caracterizada pela acomodação e não realização do objetivo na polaridade passiva.



No extremo oposto na polaridade reativa acontece uma reação manifestada através de ansiedade, raiva, revolta, etc., como se o indivíduo tivesse que lutar arduamente para realizar o objetivo que deseja, resultando num gasto muito pronunciado de energia.



Na realidade este movimento egóico estará impedindo o indivíduo de efetuar seu objetivo, pois ele estará se afastando do princípio do amor que existe em si mesmo.



Quando a pessoa afasta-se deste princípio, ela deixa que as coisas e as circunstâncias a invadam e tumultuem a sua intimidade, reagindo dentro dela.



É um movimento de inibição do essencial, e, portanto, da própria vontade, onde o indivíduo acaba se desestimulando pelos efeitos negativos que obtêm com esse movimento.



HABILIDADE (inteligência): Como atributo da vontade, a habilidade consiste na capacidade de obter os resultados desejados com o menor dispêndio possível de energia.



Quem quer chegar a um lugar distante não faz esse percurso em linha reta, atravessando florestas, rios, escalando edifícios, etc.



Estuda antes um mapa rodoviário, utiliza as estradas existentes, as quais, embora não sejam desenhadas em linha reta, podem conduzir ao almejado destino com um mínimo de esforço.



Nem tampouco, vai andando até o seu destino, mas aproveita os meios de transportes ao seu alcance, ou seja os veículos que se dirigem ao lugar que deseja chegar.



Do mesmo modo, a fim de usar mais eficazmente a vontade, devemos compreender nossa própria constituição interna e tomar conhecimento de nossas diferentes funções, impulsos, desejos, hábitos padronizados e das relações entre eles, de modo que a qualquer tempo possamos ativar e utilizar estes aspectos em nós mesmos, pois a qualquer momento já tendem a produzir a ação específica ou a condição que buscamos.



Este movimento de utilização eficaz da vontade é próprio desse atributo da vontade, a habilidade.



A função essencial da habilidade dentro da vontade, que precisamos cultivar, é o desenvolvimento de uma estratégia inteligente, que seja a mais eficaz e que envolva maior economia de recursos, de preferência a qualquer outra, mais direta e óbvia.



Utilizemos uma comparação alegórica, suponhamos que alguém deseje se locomover com um automóvel.



Se essa pessoa se colocar atrás dele, empurrando-o com todas as suas forças - estará empregando apenas a força da vontade.



Mas se, ao contrário, sentar-se comodamente no banco do motorista, ligar a ignição e dirigir o carro, estará empregando a vontade hábil.



No primeiro caso, a pessoa terá boas probabilidades de malogro e, mesmo com êxito, terá dispendido desnecessariamente uma enorme soma de energia.



Terá feito um desagradável esforço, que poderá deixá-la temporariamente exaurida e, certamente, haverá de fazer o possível para que tal experiência não se repita no futuro.



No segundo caso, o êxito é garantido - com um mínimo de esforço - contanto que, antes, a pessoa tenha se informado acerca do funcionamento do carro e tenha suficiente habilidade para lidar com ele.



O papel mais eficiente e satisfatório da vontade não é de ser fonte direta de energia e poder, mas o de ser a função que temos à nossa disposição para estimular, regular e dirigir todas as demais funções e forças de nosso ser, a fim de que elas nos possam conduzir a um objetivo predeterminado.



Como no caso do carro, porém, precisamos compreender o mundo psicológico dentro do qual e no qual a vontade opera.



Compreendendo isto, podemos escolher os meios e estratégias mais práticos e eficientes, que mais esforços economizam, para seguir nosso caminho.



Precisamos conhecer os elementos básicos desse mundo psicológico, as forças que nele agem e as leis que regulam o ato de vontade.



Este conhecimento nos leva a dirigir habilmente a atividade que a vontade tenciona realizar e nos capacita a efetivar inúmeras aplicações práticas dessas leis psicológicas, sob a direção da vontade.



Para que utilizemos bem a força de vontade é necessário saber canalizar esta força através da habilidade, transformando a força em esforço, processo que acontecerá pelo uso do poder de forma inteligente e eficaz.



No entanto, se utilizarmos apenas a força e a habilidade da vontade poderemos, ainda assim, direcioná-la inadequadamente, mas, se unirmos este poder, próprio da força de vontade, a inteligência da vontade hábil, com a boa direção, que é fruto da consciência amorosa, conforme veremos a seguir, podemos direcionar os nossos esforços de forma suave, pois utilizaremos toda a força e habilidade numa direção conveniente.



BOA DIREÇÃO (amor): Mesmo quando a vontade é dotada de força e habilidade, nem sempre é satisfatória.



De fato, ela pode até ser bastante nociva, pois se essa vontade for dirigida para fins maldosos, torna-se um grave perigo para a sociedade.



Uma pessoa de vontade forte e hábil, capaz de utilizar ao máximo seus talentos naturais, pode subjugar ou corromper a vontade dos outros; alguém que tudo ouse, nada tema e não tenha as próprias ações direcionadas por considerações éticas, pelo sentimento do amor ou da compaixão, pode influenciar desastrosamente uma comunidade e até uma nação inteira.



Para que a vontade seja usada habilmente é necessário que ela tenha um boa direção, isto é, o seu móvel deve ser o amor, pois caso contrário utilizaremos a força, o poder e a inteligência, atributos da vontade em nosso próprio prejuízo e em prejuízo de outras pessoas, outros seres vivos, a comunidade, etc.



A boa direção da vontade é característica do movimento essencial proativo.



SIGNIFICAÇÃO ESPIRITUAL (sentido da vida) - Os três atributos da vontade até aqui mencionados parecem constituir a totalidade das características da vontade.



Isso pode ser verdadeiro para o ser humano "comum", no qual tais características podem ser suficientes para a auto-realização e para levar uma vida intensa e útil.



Mas existe no homem outra dimensão.



Embora muitos não tenham consciência dela e cheguem a negar-lhe a existência - existe outra espécie de percepção, cuja realidade foi testemunhada pela experiência direta de grande número de indivíduos, através da História.



A dimensão em que funciona essa consciência pode ser chamada "vertical".



Essa dimensão da vontade é puramente espiritual, onde se busca uma significação para a vida.



Quando as pessoas buscam um sentido para a vida entram no movimento proativo visto anteriormente, e, por isso, se motivam para a vida, pela razão essencial de a perceberem plenamente.



Quando elas não vêem um significado na vida, elas estão sempre reagindo nas circunstâncias em que a vida as convida para agir, e elas, por ignorância do próprio ego, reagem até o momento em que despertam para o auto-encontro e passam a agir, buscando se esforçar para realizar o propósito de suas existências.



Quando elas se abrem realizam, quando se fecham não realizam.



Quando elas se abrem são ativas, dominam as circunstâncias; quando se fecham estão reagindo e as circunstâncias as dominam., num movimento de inibição.



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