Minutos de Paz !

sexta-feira, novembro 20, 2009



A ESCRAVIDÃO NO BRASIL.


Célia Urquiza de Sá



Durante três longos séculos, o Brasil viveu a página negra da escravidão. É comum se atribuir esse acontecimento lamentável ao fator econômico. Acreditam
que só a necessidade de braços para a lavoura foi a responsável pela vinda do
negro africano para o Brasil.


Realmente, o braço cativo foi o propulsor da economia brasileira e também de outros países. Mas, não podemos esquecer que a ação espiritual, mesmo respeitando o livre arbítrio, está sempre presente em cada momento da nossa existência.


O Espírito Humberto de Campos, no seu livro, nos fala de um encontro de Ismael com o Divino Cordeiro, onde o nosso querido mensageiro e protetor expõe a sua tristeza diante dos quadros de sofrimento e dor presenciados na nova Terra.

A civilização que ali se inicia, com um objetivo tão grandioso, deixa-se contaminar por exemplos lamentáveis apresentados em outras terras, e aderindo ao tráfico de escravos, faz-se ao mar e vai buscar nas terras longínquas da Luanda, da Guiné e de Angola, negros indefesos. Arranca-os da sua pátria, transporta-os como verdadeiros animais e, aqui chegando, vende-os como "peças" contadas, tributadas, sem nenhum respeito à sua condição humana.



O Divino Mestre, então lhe responde brandamente: " - Ismael, asserena teu mundo íntimo nos sagrados deveres que te foram confiados. Bem sabes que os homens têm responsabilidade pelos seus atos. (...) Não podemos tolher-lhes a liberdade, mas também não devem esquecer que cada qual receberá de acordo com os seus atos.



Havia eu determinado que a Terra do Cruzeiro se povoasse de raças humildes do Planeta, buscando-se a colaboração dos povos sofredores das regiões africanas.



(...) Para isso aproximei Portugal daquelas raças sofredoras, sem violência de qualquer natureza.



A colaboração africana deveria, pois, verificar-se sem abalos, sem sofrimentos, conforme as minhas amorosas determinações. O homem branco da Europa, porém, desejando entregar-se ao prazer fictício dos sentidos, procura meximir-se do trabalho pesado da agricultura, (...). Eles terão a liberdade de humilhar os seus irmãos, em face do livre arbítrio, (...) mas, os que praticarem o nefando comércio sofrerão também o mesmo martírio. (Xavier, Francisco Cândido,
op. .cit pp. 50-51)



Vemos aqui, que a vinda do negro africano para o Brasil fazia parte dos planos traçados para a nossa Terra, mas tudo deveria acontecer sem violência. A crueldade com que eles foram arrancados da sua pátria e o tratamento monstruoso que aqui receberam, sendo escravizados e torturados, foram conseqüência da ambição, do abuso do poder e da falta de conhecimento de que somos todos filhos do mesmo Pai, logo somos irmãos; somos iguais.


Esses nossos irmãos africanos, vindos para o Brasil, eram entidades sofredoras
que, em outras existências, evoluíram apenas pela ciência. Evoluíram só intelectualmente, mas eram pobres de humildade e de amor. Através da Lei de
Reencarnação, renasceram nas Terras da África e, de lá, vieram para o árduo trabalho na Terra do Cruzeiro. Foram eles que abriram caminhos na terra virgem,
sustentando nos ombros feridos o peso de todos os trabalhos, conquistando assim o sentimento de humildade e amor que lhes faltava.


Conforme Berni (1994), Emmanuel, em sua cartilha "Pensamento e Vida", assim nos esclarece.: " - Já se disse que duas asas conduziram o espírito dos humanos à presença de Deus. Uma chama-se amor, a outra, Sabedoria. Através do amor, valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria, somos pela vida valorizados. Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade".


Os filhos da África foram humilhados e torturados na Terra que seria um dia a Pátria do Evangelho; mas com seu sacrifício, e com as suas lágrimas (que também tinham uma razão, pois não se paga sem dever), tornaram-se instrumentos do Mestre Jesus, na obra em prol do Evangelho, pois, com o seu trabalho, constituíram-se num dos baluartes da nacionalidade em todos os tempos e, enquanto isso, reabilitavam-se com a Lei Divina que foi por eles um dia infringida.


Diz ainda o Mestre Jesus a Ismael: " Infelizmente Portugal, que representa um agrupamento de espíritos trabalhadores e dedicados (...) não soube receber as facilidades que a misericórdia do Supremo Senhor do Universo lhe outorgou nestes últimos anos (...).Na velha península já não existe o povo mais pobre e laborioso da Europa. O luxo das conquistas lhe amoleceu as fibras criadoras (...) não nos é possível cercear o livre arbítrio das almas, poderemos mudar o curso dos acontecimentos, a fim de que o povo lusitano aprenda, na dor e na miséria, as lições sagradas da experiência e da vida. (Xavier, Francisco Cândido,1996, p 52 - 53)


Na formação da Pátria do Evangelho, o homem branco, com sua independência e sua ambição, alterou os fatores; no entanto, Jesus alterou os acontecimentos. É a História que nos conta o que aconteceu mais adiante.


Os donatários sofreram os mais tristes reveses no solo brasileiro: Os índios Tupinambás e Tupiniquins (...) que, com expressões de fraternidade, receberam Cabral quando aqui aportou pela primeira vez, reagiram contra os colonizadores e travaram-se lutas cruentas.


A luxuosa expedição de João de Barros que saiu de Lisboa com intenção de conquistar o ouro dos Incas, dispersou-se no mar, sofrendo os seus componentes infinitos martírios. Os tesouros das Índias levam o povo português à decadência e à miséria.


A Casa de Avis, sob cujo reinado se iniciou o tráfico hediondo dos homens livres, desaparece para sempre e por fim, Portugal entrega-se ao domínio Espanhol. (Xavier, Francisco Cândido, 1996 p.53 - 54). Estas informações nos levam a supor que nada disso teria acontecido se os colonizadores tivessem agido de modo diferente. Ninguém foge à Lei de Causa e Efeito.


Apesar de tão doloroso capítulo na nossa história, a escravidão obedeceu rigorosamente ao critério da Lei de Causa e Efeito. Há, porém, um ponto a observar: mesmo sendo uma página triste e vergonhosa na nossa história, é forçoso reconhecer que a escravidão no Brasil não trouxe aos negros apenas sofrimentos.


Tiveram um final feliz. A vida dos negros regulariza-se, a saúde se refaz trazendo-lhes a alegria de viver e muitos deles são gratos aos novos senhores, que eram melhores que os da África e os do mar.


Em Bérna, Duílio Lena, na obra "Brasil, Mais Além", encontramos: "Não é nosso intento fazer apologia da escravidão, cujos terrores principalmente macularam o homem branco e sobre ele recaíram. Mas a escravidão no Brasil foi para os negros a reabilitação deles próprios e trouxe para a descendência deles uma pátria, a paz e a liberdade e outros bens que pais e filhos jamais lograriam gozar, ou sequer entrever no seio bárbaro da África". (op. cit. p. 108)



"Na Pátria do Evangelho, têm eles sido estadistas, médicos, artistas, poetas e escritores (...) em nenhuma outra parte do planeta alcançaram ainda a elevada e justa posição que lhes compete, como acontece no Brasil." (op. cit. p. 117).




Foi com essa tarefa expiatória, sofrendo os mais extraordinários sacrifícios, que cumpriram o seu resgate. E mais tarde, no Quilombo dos Palmares, deram nos o exemplo de resistência e perseverança, onde por mais de setenta anos lutaram com heroísmo, defendendo o território por eles conquistado.



REFERÊNCIA


URQUIZA DE SÁ, Célia. A Missão do Brasil como Pátria do Evangelho. Disponível http://www.luzespirita.com/livros/franciscocandidoxavier/humbertodecampos-amissaodobrasilcomopatriadoevangelho.pdf Acesso : 20 NOV. 2009.