Por Raul Teixeira
A vida da gente é algo bastante fascinante, porque existe um leme e muito pouca gente se dá conta de que a nossa vida tem um leme.
É muito comum encontrarmos, em cada momento, nas nossas conversas, junto às pessoas de nosso relacionamento, aqueles discursos que dizem: Eu não consigo.
Isso aí eu não consigo. Não sou capaz.
Eu não dou conta.
Ah! Isso é muito difícil.
Certamente quando encontramos esse tipo de discurso, percebemos que existe uma grande fragilidade do indivíduo, do dono do discurso, em função do que ele pretende expressar.
Quase sempre ele deseja dizer da sua incapacidade, da sua impossibilidade.
Mas, existe um fator preponderante, torno a dizer, que é o leme das nossas ações.
Esse leme de tudo quanto nós fazemos, chama-se vontade.
Naturalmente que somos pessoas dotadas de vontade, no entanto, existe uma coisa chamada boa vontade e outra, má vontade.
Às vezes, temos má vontade de fazer as coisas para nós próprios e, certamente, em nível de psicologia humana, isso representa um grande paradoxo, porque a coisa que nós mais queremos é crescer, é evoluir, é progredir.
Ao mesmo tempo, parece que fazemos tudo para que esse estágio de evolução não se concretize e aí saímos com esses discursos vazios, frágeis: Eu não sou capaz, eu não posso, eu não consigo.
Eu não dou conta.
Já fiz de tudo.
Já tentei tudo.
E sabemos que não é verdade, porque se tivéssemos tentado de fato, com boa vontade, teríamos conseguido.
Em verdade, a vontade é um leme, através de cuja ação, a embarcação da nossa vida, as nossas ações, se dirigem para onde nós quisermos.
Há pessoas que têm vontade de ser paparicadas, de serem vistas como coitadinha, de serem vistas como alguém que está sempre precisando de um afago alheio.
Não é a melhor opção, não é isso que deve ser a regra de nossa vida.
A regra de nossa vida deve ser a da independência, de sabermos o que queremos e, ao sabermos o que queremos, tratarmos de marchar para esse objetivo.
Nada de ficarmos com essas justificativas injustificáveis, de que não é capaz, de que não consegue.
Porque quando nós dizemos assim, já estipulamos a incapacidade, já estabelecemos a nossa derrota.
É como se alguém fosse fazer um exame, uma prova, um concurso e dissesse: Eu sei que eu não vou passar.
Já determinou que não quer passar.
É diferente daquela criatura que diz assim: Apesar de tudo eu vou fazer.
Tive pouco tempo para estudar, tive pouco tempo para me preparar, porque trabalhei muito, porque viajei ou por qualquer outro motivo, mas eu vou tentar, eu vou conseguir.
Esse estado de ânimo em que a criatura diz: Eu vou conseguir, já deu a ela um background excelente para que ela alcance os objetivos de sua vida.
A vontade é esse timão, através do qual dirigimos a embarcação de nossa existência.
Em todas as coisas que fazemos, só fazemos porque temos vontade.
Quando fazemos alguma coisa sem ter vontade, significa que é sem ter boa vontade.
Mas, se estamos fazendo alguma coisa sem que tenhamos boa vontade, aí estaremos fazendo com má vontade.
A vontade sempre existe, mas ela pode ser uma vontade capaz de nos fazer crescer ou uma vontade capaz de nos atirar ao chão.
Qual é a nossa proposta de vida?
Já que vontade vem do latim: volere, volere que deu volição, a vontade de, a vontade de realizar alguma coisa.
E a partir dessa volição, dessa vontade de realizar alguma coisa, nós somos responsáveis pela nossa vida, pelos passos da nossa vida, pelas coisas que desejamos ou não realizar.
Muitas vezes, o nosso discurso é de quem quer, mas a nossa prática é a de quem não quer.
Muitas vezes dizendo não querer, o nosso discurso estabelece o que nós de fato desejamos.
Quando a criatura diz: Eu já tentei tudo, certamente essa é uma postura de comodidade, porque tudo ninguém jamais foi capaz de fazer.
Nós fizemos algumas coisas e dessas coisas que fizemos, algumas deram certo, outras não deram certo.Jesus Cristo foi especial ao nos dizer que tudo é possível àquele que crê.
Lemos isto nas anotações do evangelista Marcos.
E se tudo é possível àquele que crê, por que se torna possível a ele?
Porque essa crença está amalgamada sobre a vontade. Está alicerçada sobre a vontade.
Tudo é possível àquele que tem vontade, poderíamos dizer assim.
Porque quando nós temos vontade superamos problemas.
Quando temos vontade superamos dificuldades, quando temos vontade nos esforçamos.
Essa vontade é um elemento catalisador que impulsiona dentro de nós as reações mais impossíveis.
Aquela criatura que dizia assim: Não, com essa paralisia eu não serei capaz.
E aí chega um fisioterapeuta, um médico, um amigo e diz assim: Você vai conseguir.
Você é capaz.
E começa a fazer o exercício, começa a mostrar que é possível.
No começo dói, no começo é difícil, no começo... mas o indivíduo vai vencendo as dificuldades.
Na medida em que vamos vencendo as nossas dificuldades, tudo se torna possível.
É por isso que vimos Aleijadinho, com as deficiências que portava, ter se tornado o excelente engenheiro do barroco.
É por isso que vimos a notável Helena Keller, cega, surda, muda, tornar-se notável professora de cegos, surdos e mudos, viajar pelo mundo, fazer conferências.
É por causa disso que encontramos hoje as Olimpíadas para deficientes físicos, as Paraolimpíadas.
E ficamos estupefatos, entusiasmados de ver o que vemos.
É por isso que hoje vemos criaturas cheias de mazelas orgânicas fazendo verdadeiros milagres, com o poder da sua vontade.
Quando temos vontade, o céu se move para nós.
Quando temos vontade, arrastamos as montanhas mais pesadas e essa vontade é pródromo da fé, alimenta nossa fé.
E o Mestre Nazareno nos disse que, se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda, que é tido como dos menores grãos do mundo, uma das menores sementes do mundo, seríamos capazes de dizer às montanhas para que se afastassem e elas se afastariam.
Essas montanhas certamente não são as de granito, não são as montanhas da nossa geologia, são as montanhas da alma, as montanhas de problemas, as montanhas de dificuldades, de deficiências.
É por essa razão que somos movimentados pela nossa vontade.
No mundo social, quando as obras não são feitas para a comunidade, dizemos que falta vontade política.
A vontade é, de tal forma identificada nas realizações da vida, que passamos a usá-la popularmente, sem que o povo se dê conta de que está enunciando uma grandíssima verdade.
Falta vontade política nos políticos, mas falta vontade política em nós.
Às vezes, pela nossa política doméstica achamos que, se superarmos determinados problemas, não teremos mais o aconchego de Fulano, a paparicação de Beltrano.
Às vezes, na nossa política de vivência social com os nossos amigos, achamos que, se demonstrarmos a nossa capacidade, as pessoas não irão mais fazer para nós.
A nossa vontade precisa se associar à orientação de Jesus Cristo ao nos dizer que, tudo é possível àquele que crê.
Creiamos, desde hoje, que é possível sair da nossa deficiência, da nossa limitação, da nossa desordem interior.
Pessoas de pouca memória que dizem: Ah! Eu não sou capaz de lembrar.
Não digam assim. Será melhor dizer: Vou fazer esforços para me lembrar.
Porque estaremos trabalhando no positivo.
Quando eu já garanto que não serei capaz, de que já tentei tudo, estou me condenando à falência.
A nossa vontade é o leme da embarcação da nossa vida.
Se o timoneiro for um bom timoneiro, levará o barco da sua vida para o porto da paz e da realização.
Mas, se ele for um mau timoneiro, certamente arremessará a nau de sua vida sobre os arrecifes, sobres as montanhas, e seu barco possivelmente, se não chegar a isso, adernará nas ondas bravias.
Vontade, volere, querer.
Querer é poder, afirma o brocado popular
.E é por essa razão que, quando sentirmos a necessidade de querer, por que é que não vamos querer o bem, o amor e a paz, para que tudo mais se complete em nossa existência?
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 122, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 24.08.2008.