ÀS MULHERES QUE FIZERAM ABORTO, E A TODOS NÓS
Da Redação do Serviço Espírita de Informação
Buscando livrar-nos de embaraços provenientes dos julgamentos é que Jesus proferiu a célebre advertência do “não julgueis para não serdes julgados” (Mateus, 7:1). E, em se tratando de aborto, a recomendação não seria exceção. Certamente, isso não significa acumpliciar-se no silêncio com quaisquer práticas ou propostas que representem atentado à vida ou desrespeito ao ser humano, mas sim redobrar o amor e a compreensão fraterna perante os que enveredaram por caminhos equivocados no ontem, sentimentos dos quais todos carecemos, visto que somos ainda espiritualmente imaturos e, por isso, bastante sujeitos ao erro.
Não julgar é amar, é não lançar sal à ferida do outro, que já pode ter sofrido demais, ao trazer no íntimo marcas profundas que só o tempo e a ação no bem podem curar.
Por que falamos nisso? É que muito se tem comentado sobre a questão do aborto, principalmente nos últimos dias, quando voltam à discussão as campanhas a favor da legalização dessa prática a qualquer tempo da gestação.
Contudo, em meio aos naturais apontamentos que possam surgir no calor dos debates sobre o assunto, inclusive sob o ponto de vista espiritual da questão, não podemos, de jeito nenhum, esquecer daquela que inevitavelmente estáno meio desse turbilhão, não raramente arrependida e acuada, martirizada pela culpa e reclamando um pouco mais de compreensão e carinho: a mulher que já abortou.
Podem ser elas ainda hoje, nesta mesma encarnação, aquela companheira amiga que, de pensamento renovado, se movimenta junto de nós com extremada
abnegação nas tarefas de amparo à infância carente; que, tocada na consciência e nas fibras mais sutis da alma, dedica-se, com afinco, aos valores do Espírito imortal, na divulgação da mensagem cristã-espírita, que a ninguém rebaixa pelos erros cometidos mas enaltece nas possibilidades do presente e do amanhã, de servir e amar por amor a Jesus.
Pode ser ela atualmente a mãe amorosa, que estende o sentido de maternidade para além das paredes do lar; a tia dedicada; a avó amada, que enriquece o templo doméstico com sua sabedoria e bondade.
Mas quantas outras consciências femininas devem permanecer ainda estagnadas na culpa por se terem deixado levar pelo desespero de um momento, influenciadas por opiniões alheias bem urdidas num momento de fragilidade emocional, em que prevaleceu o medo de uma gravidez sem recursos, o receio da reação familiar e até mesmo a pressão cruel de um parceiro igualmente imaturo?
A todas essas companheiras, enfim, que um dia, inadvertidamente, percorreram tal caminho, jamais o anátema ou a palavra de recriminação, pois que nenhum de nós há que já não tenha cometido seus erros. Elas já sofreram muito e ninguém se acredite no direito de lhes lançar aos ombros peso ainda maior.
Que elas também não se esqueçam de que, como bem asseverou o apóstolo Pedro, “o amor cobre a multidão de pecados” (I Pedro, 4:8). Que saibam que Deus a ninguém castiga, mas que a Misericórdia Celeste a todos orienta, favorecendo, pelo chegar das experiências, não só a reflexão, mas o reajuste da rota, para uma existência verdadeiramente feliz e plena de valores da vida imortal.
Que, embora arrependidas, não se deixem consumir pela culpa, que a
nenhum lugar leva, roubando as horas, a saúde, o equilíbrio, as possibilidades, a esperança.Que encontrem no bem, assim como todos nós, o lenitivo e a bússola.
Que se valham da difícil experiência vivida para ofertar àquelas outras mulheres que hoje pensam em aborto o amparo e o esclarecimento espiritual que lhes faltou, a fim de que possam optar pela vida de seus bebês e o amor prevaleça.
Quanto ao restante de nós, que nunca nos falte a cautela necessária quando tocarmos na questão do aborto, ainda que nos centros de divulgação do pensamento espírita.
Que prossigamos esclarecendo, sempre, sem, contudo, estigmatizar ou lançar dardos ao peito alheio, mostrando, dentro dos preceitos cristãos, como é possível, na certeza de que o Alto jamais nos desampara, contornar desacertos e obstáculos e seguir adiante, cooperando sempre mais e melhor com esta majestosa e inesgotável força de Amor que chamamos Deus.
FONTE:
Disponível em <http://www.lfc.org.br/sei/boletim/2158.pdf>