Sobre o Julgar Incessantemente
Cezar Braga Said
O hábito de fazer juízos, exprimindo opiniões e qualificando
algo como bom ou ruim, certo ou errado, é algo que desde criança aprendemos a
fazer.
Nos diferentes grupos sociais nos quais interagimos, parece
haver uma necessidade tácita, um impulso quase irresistível de dizer a todo
instante o que pensamos. E se resolvemos apenas ouvir, nos calando um pouco,
somos convidados e até cobrados a "pôr para fora" o que nos vai por
dentro.
O uso da razão, o exercício do senso crítico, a capacidade
de análise são conquistas evolutivas que não devemos desprezar e, por certo,
Jesus não nos convida a restringir tais conquistas ao propor cuidado em nossos
julgamentos (Mateus 7:1 e Lucas 6:37).
A questão é que julgar o tempo inteiro tudo, todos e a nós
mesmos, de modo contínuo, sem intervalos num "ruminar constante de
pensamentos", gera um cansaço mental, um esgotamento que pode comprometer
a nossa capacidade de sentir e experimentar sensações sem a necessidade de
qualificá-las.
Claro que precisamos nos conhecer e a introspecção, a
reflexão e as terapias são ferramentas importantes neste processo.
Elas nos
ajudam a perceber quando estamos pensando muito e sentindo pouco ou o
contrário. Nos permitem encontrar "um meio termo" que seja saudável e
útil.
A questão é que por vezes nos resumimos e nos reduzimos
exclusivamente ao que pensamos, não abrindo espaços internos.
Espaços para:
Contemplar um pôr do sol em silêncio verbal e mental.
Apreciar a chuva, observando o vento balançando as árvores e
movimentando as nuvens.
Ver o ir e vir das ondas no mar sem especular questões de
física, química, biologia, apenas registrando a beleza, o fluxo, a poesia que
tal movimento encerra.
Deixar que uma melodia penetre na acústica da alma sem
especulações.
Permitir que uma pintura nos encante, emocione e nada
mais...
Trata-se de uma proposta milenar, ainda que desconhecida por
alguns e deixada de lado por outros.
Para desenvolver e cultivar esta quietude é preciso, além de
outras coisas, controlar o desejo de sempre ensinar, especular, perguntar,
problematizar, a fim de curtir, criando espaços na mente para sorver, sentir
...
Avaliemos não apenas a qualidade e a intenção dos nossos
juízos, acertados ou equivocados, precisos ou distorcidos, mas igualmente a
frequência com que eles se manifestam.
Desse modo, estaremos não apenas desacelerando nosso ritmo
frenético, mas adquirindo um pouco mais de harmonia, sensibilidade e empatia na
hora em que desejarmos exprimir nossas opiniões e julgamentos.
Cezar Braga Said
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