Caridade do Dever
André Luiz
De quando a quando, troquemos os grandes conceitos da
caridade pelos atos miúdos que lhe confirmem a existência.
*
Não apenas os fatos de elevado alcance e os gestos heróicos
dignos da imprensa.
Beneficência no cotidiano.
Não empurrar os outros na condução coletiva.
Evitar os serviços de última hora, nas instituições de
qualquer espécie, aliviando companheiros que precisam do ônibus em horário
certo para o retorno à família.
Reprimir o impulso de irritação e falar normalmente com as
pessoas que nada têm a ver com os nossos problemas.
Aturar sem tiques de impaciência a conversação do amigo que
ainda não aprendeu a sintetizar.
Ouvir, qual se fosse pela primeira vez, um caso recontado
pelo vizinho em lapso de memória.
Poupar o trabalho de auxiliares e cooperadores, organizando
anotações prévias de encomendas e tarefas por fazer, para que não se convertam
em andarilhos por nossa conta.
Desistir de reclamações, descabidas diante de colaboradores
que não têm culpa das questões que nos induzem à pressa, nas organizações de
cujo apoio necessitamos.
Pagar sem delonga o motorista ou a lavadeira, o armazém ou a
farmácia que nos resolvem as necessidades, sem a menor obrigação de nos
prestarem auxílio.
Respeitar o direito do próximo sem exigir de ninguém
virtudes que não possuímos ou benefícios que não fazemos.
*
Todos pregamos reformas salvadoras.
Guardemos bastante prudência para não nos fixarmos
inutilmente nos dísticos de fachada.
*
Edificação social, no fundo, é caridade e caridade vem de
dentro.
Façamos uns aos outros a caridade de cumprir o próprio
dever.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito André Luiz.
Apostilas da Luz, cap. 3, p. 05.
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