O Dia de Finados em Nossos Corações
Márcio Costa
Neste final de semana muitos de nós iremos aos cemitérios
levando nossas flores, nossos ornamentos, preces e, principalmente, lágrimas de
saudade.
Esta é uma tradição muito antiga e ultrapassa as nossas lembranças da
infância, quando observávamos curiosos os mais velhos com semblantes, muitas
vezes tristes, dizendo que iam visitar os que já partiram.
O culto aos mortos, expressão assim conhecida em diversas
culturas, já existe há séculos, muito antes da era cristã.
A era primitiva
deixou diversas marcas desta cultura para os arqueólogos.
Por meio de
materiais, ornamentos, formas de sepultar os corpos, dentre outras, é possível
identificar alguns indícios sobre a forma como os antigos cuidavam dos seus
entes queridos.
Mais adiante, no Egito, com a certeza de que a vida
continuaria após a morte, os mais abastados, principalmente faraós e
sacerdotes, passavam pelos processos de mumificação para evitar a decomposição
do corpo após a morte.
Com estas tradições foram erguidas, por exemplo, as
famosas pirâmides de Queóps e Gizé as quais, possivelmente, serviam de
suntuosos sepulcros para os eleitos da época.
Com o tempo, gerações se passaram, ergueram-se cidades e
novas organizações sociais foram se estruturando.
No entanto, os exemplos de
respeito ou trato com os que partiram sempre estiveram de alguma forma
presentes nas páginas de nossa história.
Mas foi a partir da Idade Média que as tradições que
presenciamos hoje começaram efetivamente a surgir.
O “Halloween”, por exemplo,
possivelmente teve suas raízes na combinação entre a cultura cristã com a
cultura dos Celtas.
Como “Todos os Santos” era comemorado no primeiro dia de
novembro, o dia 31 de outubro era denominado “Allhallow-eve”, que em escocês
significa “véspera do dia de Todos os Santos”.
Posteriormente, as mudanças na
expressão oral da palavra e o registro escrito foram alterando sua estrutura
até chegar no referido termo conhecido nos dias de hoje.
O “Halloween” ainda
continua sendo um evento tradicional do calendário anglo-saxão.
O que muda,
atualmente, são algumas formas de celebrar a data, cujas motivações de ordem
comercial inseriram fantasias e festas, por exemplo.
Dentre os países que
adotam esta tradição, os Estados Unidos é o mais representativo.
E em virtude
de sua projeção no cenário internacional, vem influenciando outras culturas
como a do Brasil, onde já se veem em várias cidades crianças e jovens repetindo
comportamentos norte-americanos.
Por outro lado, a cultura latina se firmou principalmente no
dia de Finados.
O início da celebração desta data possivelmente se encontra no
final do século X, quando uma celebração em prol dos mortos foi realizada em
uma abadia da cidade de Cluny, na França.
A partir de então, os eventos se
tornaram repetitivos até serem oficializados pela Igreja Católica no início do
século XIV.
Já no século XX, o evento tomou força entre católicos e outras
religiões pelas mãos do Papa Bento XV e se consolidou em países como o Brasil.
O dia de Finados é uma data muito respeitada por várias
pessoas.
Em torno dele giram diversas crenças, tais como o luto, a chuva que se
espera, não entrar com o sapato em casa para evitar a terra do cemitério,
dentre outras.
Contudo, uma das imagens que mais simboliza este dia,
principalmente para nós brasileiros, são as flores e lágrimas que deixamos nos
túmulos.
O Espiritismo não estimula e nem condena a ida ou não de
alguém ao cemitério para reverenciar seus entes queridos.
Isto porque, para o
Espírita, a vida continua e esta visita representa uma exteriorização dos
sentimentos que trazemos em nossos corações pela memória de alguém que partiu.
Destaca-se que este gesto, quando feito com amor sincero,
pode realmente levar um conforto àquele que já desencarnou.
O espírito lembrado
com certeza receberá o acalento do pensamento em prece.
Todavia, cabe ressaltar
que ele sempre poderá receber os fluidos da prece em quaisquer dias do ano.
Logo, se realmente queremos levar o nosso carinho e amor continuamente, não
podemos nos limitar a um dia específico.
Mas sim, em todos os momentos
oportunos em que for aplicável encaminhar nossas orações.
Outro ponto a ser colocado é a questão se o Espírito estará
no cemitério ou não.
Possivelmente sim, mas fruto do chamamento que se faz
àquele local.
Se fôssemos a outro ambiente e depositássemos as mesmas flores
com os mesmos sublimes propósitos, possivelmente ele também irá recebê-la neste
outro lugar.
Tudo está na intenção e de como conduzimos as nossas ações.
Mas não seria triste para ele não comparecer ao túmulo?
Pode
até ser.
No entanto, a maior tristeza que podemos conceder aos nossos entes
queridos desencarnados é o completo esquecimento.
Muitas vezes o túmulo está em
nossos corações onde enterramos por completo a imagem dos que se foram para
somente lembrarmos-nos dela por meio das convenções sociais impostas em um
feriado nacional.
Assim, leitor amigo, nada o impede de se dirigir ao
cemitério neste dia de tristeza e dor.
No entanto, antes de fazê-lo, procure
adoçar o choro com lágrimas de esperança e fé.
Eles partiram, mas estão vivos!
Lembre-se também de que seus pensamentos aliados ao de tantos outros é que
levará aos cemitérios a psicosfera que você e os desencarnados irão encontrar.
Assim, lamentações e dores intermináveis somente irão encaminhar vibrações
desequilibradas para aqueles que espiritualmente atenderem à sua prece.
Pense, antes de tudo, de como nós gostaríamos de ser
lembrados. Um dia certamente estaremos do outro lado e não vamos querer mais
sofrimentos além da saudade que aumenta com a distância no tempo.
Também não
vamos querer ser lembrados somente pelos momentos derradeiros em que nosso
féretro desceu à terra.
Vamos querer, sim, ser lembrados pelos momentos felizes
e alegres que passamos com as nossas famílias e amigos.
Vamos querer ser
lembrados por sentimentos sinceros e verdadeiros.
Vamos querer ser lembrados
pela amizade.
E, principalmente, vamos querer ser lembrados pelo amor.
*
Logo, neste dia de Finados elevemos nossos corações aos
nossos entes queridos.
Mas não nos esqueçamos de fazê-lo nos demais dias e em
momentos oportunos de nossas vidas.
Referências
ALLAN KARDEC. Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: Federação
Espírita Brasileira, 2004.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno: A justiça Divina segundo o
Espiritismo. 1ª ed. Brasília: Feb, 2010. 576 p.
FEPARANA. Reverenciando a Vida. 2006. Disponível em:
.
Acesso em: 31 out. 2014.
FONTE
COSTA , Márcio Martins da Silva. Disponível em : https://www.agendaespiritabrasil.com.br/2014/11/01/o-dia-de-finados-em-nossos-coracoes/. Acesso 30 OUT 2019.
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