No Plano Carnal
Emmanuel
Isolado na concha milagrosa do corpo, o Espírito está
reduzido em suas percepções a limites que se fazem necessários.
A esfera sensorial funciona, para ele, à maneira de câmara
abafadora.
Visão, audição, tato, padecem enormes restrições.
O cérebro físico é um gabinete escuro, proporcionando-lhe
ensejo de recapitular e reaprender.
Conhecimentos adquiridos e hábitos profundamente arraigados
nos séculos aí jazem na forma estática de intuições e tendências.
Forças inexploradas e infinitos recursos nele dormem,
aguardando a alavanca da vontade para se externarem no rumo da
superconsciência.
No templo miraculoso da carne, em que as células são tijolos
vivos na construção da forma, nossa alma permanece provisoriamente encerrada,
em temporário olvido, mas não absoluto, porque, se transporta consigo mais
vasto patrimônio de experiência, é torturado por indefiníveis anseios de
retorno à espiritualidade superior, demorando-se, enquanto no mundo opaco, em
singulares e reiterados desajustes.
Dentro da grade dos sentidos fisiológicos, porém, o espírito
recebe gloriosas oportunidades de trabalho no labor de auto-superação.
Sob as constrições naturais do plano físico, é obrigado a
lapidar-se por dentro, a consolidar qualidades que o santificam e, sobretudo, a
estender-se e a dilatar-se em influência, pavimentando o caminho da própria
elevação.
Aprisionado no castelo corpóreo, os sentidos são exíguas
frestas de luz, possibilitando-lhe observações convenientemente dosadas, a fim
de que valorize, no máximo, os seus recursos no espaço e no tempo.
Na existência carnal, encontra multiplicados meios de
exercício e luta para a aquisição e fixação dos dons de que necessita para
respirar em mais altos climas.
Pela necessidade, o verme se arrasta das profundezas para a
luz.
Pela necessidade, a abelha se transporta a enormes
distâncias, à procura de flores que lhe garantam o fabrico do mel.
Assim também, pela necessidade de sublimação, o espírito
atravessa extensos túneis de sombra, na Terra, de modo a estender os poderes
que lhe são peculiares.
Sofrendo limitações, improvisa novos meios para a subida aos
cimos da luz, marcando a própria senda com sinais de uma compreensão mais nobre
do quadro em que sonha e se agita.
Torturado pela sede de Infinito, cresce com a dor que o
repreende e com o trabalho que o santifica.
As faculdades sensoriais são insignificantes réstias de
claridade descerrando-lhe leves notícias do prodigioso reino da Luz.
E quando sabe utilizar as sombras do palácio corporal que o
aprisiona temporariamente, no desenvolvimento de suas faculdades divinas,
meditando e agindo no bem, pouco a pouco tece as asas de amor e sabedoria com
que, mais tarde, desferirá venturosamente os voos sublimes e supremos, na
direção da Eternidade.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel. Do livro Roteiro, capítulo 2.
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