Do livro "A Luz do Mundo" de Amélia Rodrigues/Psicografia de Divaldo Franco
(...)Numa pausa para melhor refelxão, o discípulo silenciou e todos os peitos, agora opressos, respiram com dificuldade.
Ao lado, um pouco mais acima do solo atapetado pela relva, de costas para o disco solar em sangue e ouro, o Amigo apareceu, nimbado de incomparável beleza.
Houve um estremecimento generalizado, um frêmito que percorreu todos os presentes.
As lágrimas saltaram dos olhos desmesuradamente abertos. Os lábios da multidão se entreabriram mudos, pela inusitada emoção.
Sim, era Jesus!
As vestes pareciam flutuar incendiadas. O rosto adornado pela basta cabeleira flutuando no ar careado, era o Amado, conquanto mais belo, mais diáfano...
- Eis-me que estou entre vós. - Começou a dizer com a mesma entonação de outrora. - Paz seja convosco!
As palavras sem queixas nem reprimendas, bordavam-Lhe os lábios e caíam como gotas divinas sobre os corações, penetrando-os.
- Agora ao vosso lado outra vez e, logo mais, com meu Pai. Nunca, porém, me apartarei de vós, nem vos deixarei.
"Sois a terra generosa e eu sou a semente da vida. Se não morre o grão, não se enriquece a mesa de pão. Sem o solo a semente não sobrevive porque não se renova nem se multiplica, e sem o grão a terra crestada é morta..."
" Sois minhas paixão, a minha longa dor, o amor da minha vida. Eu sou a vossa esperança, o alento da vossa felicidade. Sem mim caminhareis em inquietação crescente. Sem vós sofrerei soledade. Vinde, novamente à mim, e deixai-me demorar em vós".
As ansiedades generalizadas, selaram com silêncio suas agonias.
Ele contemplou a multidão e viu o futuro: campos juncados de cadáveres e rios de sangue; paixões desenfreadas em carros de guerra e os abutres das pestes dizimando; os monstros de egoísmo e da insensatez dirigindo os córceis do desespero e as dores superlativas vencendo...
Muito ao longe, no futuro, porém, desenhava-se a Era do Consolador, o período de paz...
"- Amai-vos sempre, eu vos peço. Seja o vosso sinal o amor. Só o amor liberta o homem. Por muito amardes, sereis perdoados, amados, felizes!
Amei a fonte, o solo, o animal, a vida em qualquer expressão, amai-vos uns aos outros... como eu vos tenho amado!
Eu vos convido a descer aos homens e amá-los para subirdes aos Céus, amados. Todo aquele que desce para ajudar, eleva-se ajudado pelo auxílio dispensado.
Por enquanto não sereis compreendidos nem amados... Ao contrário, sereis odiados e perseguidos. Vossos suores, lágrimas e sangue lavarão vossas culpas e prepararão vosso amanhã.
Sereis tidos por endemoninhados e loucos, ultrajados nos mais caros anseios e esperanças por minha causa. Lembrai-vos de mim. Recordai: eu venci o mundo! Não podereis vencer o mundo das ilusões e dos triunfos entre os homens de paixões.
Vossos ideais, em nome do meu Nome, serão violados e confundidos, e vosso nome por amor ao meu, mil vezes pisoteado... Tende bom ânimo!
Tudo passa: menos o amor.
Na hora aziaga e nobre do testemunho, dizei: isto também passa. E alegrai-vos.
Sois minhas ovelhas amadas e eu vos mando na direção dos lobos rapaces.
Ide, semeadores, e não temais!
Que medo podem fazer os que matam o corpo e nada mais conseguem, eles, que logo mais o perderão também?
Não vos enganeis! Porfiai, mesmo quando aparentemente tudo estiver contra vós, prossegui. Estarei convosco até o fim dos séculos".
"Ignorados por todos, eu vos conhecerei; abandonados pela multidão, estarei convosco; perseguidos pelo mundo, e eu ao vosso lado.
E quando chegar o vosso momento de retornar, tomar-vos-ei em minhas mãos e vos direi baixinho: entrai na vida, vós que fostes fiés até o fim, e alegrai-vos!
Agora, ide, pregai e vivei o amor. Eu me vou, mas ficarei convosco!"
O céu estava engastado de estrelas preciosas no manto da noite, e a Lua em, prata vestia a paisagem, confraternizando com o último ouro do poente no cabeço dos montes muito ao longe.
Lentamente viram-nO ascender e perder-se no infinito das constelações como se fora uma gema a mais fulgido no seu rastro luminoso, que ficara como ponte de luz da Terra na direção do Céu.
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