VOAR É PRECISO
Aldo Colombo
No ponto mais alto de uma rocha, a águia construiu seu ninho.
Lá embaixo ficava a planície, no alto as nuvens e as estrelas.
Foram longos dias de paciência e um dia, três pequenas águias romperam a casca do ovo e ficaram fascinadas pela luz.
Os dias iam passando e os pais traziam, com pontualidade, o alimento.
E, à noite, as penas aveludadas da mãe garantiam o calor e a tranqüilidade, evitando o vento frio e a neve.
Para os filhotes, esta vida poderia durar sempre.
E, de alguma maneira, assim pensavam seus pais.
Mas chegou o dia do empurrão.
A águia empurrou, com ternura e firmeza, seus filhotes para a beirada do ninho.
Seu coração se acelerou, com emoções conflitantes,ao mesmo tempo que sentiu a resistência dos filhotes, com medo de cair.
Lá embaixo estava o abismo.
Se as asas não funcionarem, os filhotes morrerão,rolando de pedra em pedra até o sopé da gigantesca rocha.
Apesar do medo, a águia-mãe sabia que aquele era o momento.
Sua missão estava prestes a terminar.
Faltava a tarefa final: o empurrão.
Ela se encheu de coragem.
Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas, não haverá futuro.
Enquanto eles não aprenderem a voar, não descobrirão o privilégio de nascer águia.
O empurrão era o melhor presente que ela poderia oferecer-lhes.
Era seu supremo gesto de amar.
Então, um a um, ela os precipitou para o abismo. E eles voaram.
A águia em seu instinto cego,fez aquilo que os pais devem fazer em sua racionalidade.
O lar é o ninho da ternura, do amor e da aprendizagem.
Mas chega um dia que a excessiva proteção compromete o futuro dos filhos.
Coitados, são tão inexperientes, pensam alguns pais.
E os filhos ficam dormitando no comodismo, enquanto a vida passa.
Eles nunca vão aprender a voar.
A racionalidade deve vencer o medo e os filhos precisam encontrar seu próprio espaço, tomar em suas mãos o destino.
Amar não é querer bem, mas querer o bem dos filhos.
Amar não é sempre dizer sim, mas ter, igualmente, a coragem do não, que também é prova de amor.
Os pais devem indicar aos filhos o caminho, mas não podem caminhar por eles.
Educar é fortalecer as asas, mas não podem voar por eles.
Misturar, de maneira inteligente, o amor e a firmeza, sintetiza a arte de educar.
Por vezes o coração, sobretudo materno, raciocina mal.
Como a águia, os pais devem empurrar seus filhos.
Águias adultas não podem ficar dormitando no ninho a vida inteira.
Uma canção do padre Zezinho afirma: “Se já tem asas, seu destino é voar!”.
Somente voando as aves descobrem suas possibilidades.
Elas nasceram para serem águias e não galinhas.
Somente tentando tomamos consciência do enorme poder que temos.
Os limites humanos sempre podem ser superados.
Até mesmo aquilo que parece impossível pode ser feito.
Educar é também empurrar, a seu tempo, os filhos para fora do ninho.
E eles voarão.
Extraído do Correio Riograndense, 05/10/2005.
Sempre tive admiração pelas águias , o que se intensificou quando li a obra "A Águia e a Galinha" de Leonardo Boff.
Compreendi que todos nascemos para sermos águias, mas infelizmente muitos se acomodam na condição de "galinha", vivendo num território delimitado e jamais saberão o que é voar em liberdade.