Minutos de Paz !

segunda-feira, julho 27, 2009



VOAR É PRECISO


Aldo Colombo



No ponto mais alto de uma rocha, a águia construiu seu ninho.

Lá embaixo ficava a planície, no alto as nuvens e as estrelas.


Foram longos dias de paciência e um dia, três pequenas águias romperam a casca do ovo e ficaram fascinadas pela luz.


Os dias iam passando e os pais traziam, com pontualidade, o alimento.


E, à noite, as penas aveludadas da mãe garantiam o calor e a tranqüilidade, evitando o vento frio e a neve.


Para os filhotes, esta vida poderia durar sempre.


E, de alguma maneira, assim pensavam seus pais.


Mas chegou o dia do empurrão.


A águia empurrou, com ternura e firmeza, seus filhotes para a beirada do ninho.

Seu coração se acelerou, com emoções conflitantes,ao mesmo tempo que sentiu a resistência dos filhotes, com medo de cair.


Lá embaixo estava o abismo.


Se as asas não funcionarem, os filhotes morrerão,rolando de pedra em pedra até o sopé da gigantesca rocha.

Apesar do medo, a águia-mãe sabia que aquele era o momento.

Sua missão estava prestes a terminar.


Faltava a tarefa final: o empurrão.

Ela se encheu de coragem.


Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas, não haverá futuro.


Enquanto eles não aprenderem a voar, não descobrirão o privilégio de nascer águia.


O empurrão era o melhor presente que ela poderia oferecer-lhes.


Era seu supremo gesto de amar.


Então, um a um, ela os precipitou para o abismo. E eles voaram.


A águia em seu instinto cego,fez aquilo que os pais devem fazer em sua racionalidade.


O lar é o ninho da ternura, do amor e da aprendizagem.


Mas chega um dia que a excessiva proteção compromete o futuro dos filhos.


Coitados, são tão inexperientes, pensam alguns pais.


E os filhos ficam dormitando no comodismo, enquanto a vida passa.


Eles nunca vão aprender a voar.


A racionalidade deve vencer o medo e os filhos precisam encontrar seu próprio espaço, tomar em suas mãos o destino.


Amar não é querer bem, mas querer o bem dos filhos.


Amar não é sempre dizer sim, mas ter, igualmente, a coragem do não, que também é prova de amor.


Os pais devem indicar aos filhos o caminho, mas não podem caminhar por eles.


Educar é fortalecer as asas, mas não podem voar por eles.


Misturar, de maneira inteligente, o amor e a firmeza, sintetiza a arte de educar.


Por vezes o coração, sobretudo materno, raciocina mal.


Como a águia, os pais devem empurrar seus filhos.


Águias adultas não podem ficar dormitando no ninho a vida inteira.


Uma canção do padre Zezinho afirma: “Se já tem asas, seu destino é voar!”.


Somente voando as aves descobrem suas possibilidades.


Elas nasceram para serem águias e não galinhas.


Somente tentando tomamos consciência do enorme poder que temos.


Os limites humanos sempre podem ser superados.


Até mesmo aquilo que parece impossível pode ser feito.


Educar é também empurrar, a seu tempo, os filhos para fora do ninho.


E eles voarão.


Extraído do Correio Riograndense, 05/10/2005.





Sempre tive admiração pelas águias , o que se intensificou quando li a obra "A Águia e a Galinha" de Leonardo Boff.

Compreendi que todos nascemos para sermos águias, mas infelizmente muitos se acomodam na condição de "galinha", vivendo num território delimitado e jamais saberão o que é voar em liberdade.