Você é Insubstituível
Augusto Cury
Todo ser humano passa por turbulências em sua vida. A alguns falta o pão na mesa; a outros, a alegria na alma. Uns lutam para sobreviver. Outros são ricos e abastados, mas mendigam o pão da tranqüilidade e da felicidade.
Que pão falta em sua vida?
Quando o homem explorar intensamente o pequeno átomo e o imenso espaço e disser que domina o mundo, quando conquistar as mais complexas tecnologias e disser que sabe tudo, então ele terá tempo para se voltar para dentro de si mesmo. Nesse momento descobrirá que cometeu um grande erro. Qual?
Compreenderá que dominou o mundo de fora, mas não dominou o mundo de dentro, os imensos territórios da sua alma. Descobrirá que se tornou um gigante na ciência, mas que é um frágil menino que não sabe navegar nas águas da emoção e que desconhece os segredos que tecem a colcha de retalhos da sua inteligência.
Quando isso ocorrer, algo novo acontecerá. Ele encontrará pela segunda vez a sua maior invenção: a roda. A roda? Sim, só que dessa vez será a roda da emoção. Encontrando-a, ele percorrerá territórios pouco explorados e, por fim, encontrará o que sempre procurou: o amor, o amor pela vida e pelo Autor da vida.
Ao aprender a amar, o homem derramará lágrimas não de tristeza, mas de alegria. Chorará não pelas guerras nem pelas injustiças, mas porque compreendeu que procurou a felicidade em todo o universo e não a encontrou.
Perceberá que Deus a escondeu no único lugar em que ele não pensou em procurá-la: dentro de si mesmo.
Nesse dia, sua vida se encherá de significado e uma revolução silenciosa ocorrerá no âmago do seu espírito: a soberba dará lugar à simplicidade, o julgamento dará lugar ao respeito, a discriminação dará lugar à solidariedade, a insensatez dará lugar à sabedoria. Mas esse tempo ainda está distante. Por quê?
Porque nem sequer descobrimos que a pior miséria humana se encontra no solo da emoção. O homem sonha em viver dias felizes, mas não sabe conquistar a felicidade. Os poderosos tentaram dominála. Cercaram-na com exércitos, encurralaram-na com armas, pressionaram-na com suas vitórias. Mas a felicidade os deixou atônitos, pois nunca o poder conseguiu controlá-la.
Os magnatas tentaram comprá-la. Construíram impérios, amealharam fortunas, compraram jóias. Mas a felicidade os deixou perplexos, pois ela jamais se deixou vender e disse-lhes: "O sentido da vida se encontra num mercado onde não se usa dinheiro!" Por isso há miseráveis que moram em palácios e ricos que moram em casebres.
Os cientistas tentaram entender a felicidade. Pesquisaram-na, fizeram estatísticas, mas ela os confundiu, falando-lhes: "A lógica numérica jamais compreenderá a lógica da emoção!" Perturbados, descobriram que o mundo da emoção é indecifrável pelo mundo das idéias. Por isso, os cientistas que viveram uma vida exclusivamente lógica e rígida foram infelizes.
Os intelectuais buscaram a felicidade nos livros de filosofia, mas não a encontraram. Por quê? Porque há mais mistérios entre a emoção e a razão do que jamais sonhou a mente dos filósofos. Por isso, os pensadores que amaram o mundo das idéias e desprezaram o mundo da emoção perderam o encanto pela vida.
Os famosos tentaram seduzir a felicidade. Ofereceram em troca dela os aplausos, os autógrafos, o assédio da TV.Mas ela golpeou-os, dizendo: "Escondo-me no cerne das coisas simples!" Rejeitando o seu recado, muitos não trabalharam bem a fama. Perderam a singeleza da vida, se angustiaram e viveram a pior solidão: sentir-se só no meio da multidão.
Os jovens gritaram: "O prazer de viver nos pertence!" Fizeram festas e promoveram shows, alguns se drogaram e outros apreciaram viver perigosamente. Mas a felicidade chocou-os com seu discurso: "Eu não me encontro no prazer imediato, nem me revelo aos que desprezam seu futuro e as conseqüências dos seus atos!" Algumas pessoas creram que poderiam cultivar a felicidade em laboratório. Isolaram-se do mundo, baniram as pessoas complicadas de sua história e as dificuldades de sua vida. Gritaram: "Estamos livres de problemas!"
Mas a felicidade sumiu e deixou-lhes um bilhete: "Eu aprecio o 'cheiro' de gente e cresço em meio aos transtornos da vida."
Por que muitos falharam em conquistar a felicidade? Porque quiseram o perfume das flores, mas não quiseram sujar suas mãos para cultivá-las; porque quiseram um lugar no pódio, mas desprezaram a labuta dos treinos. Precisamos aprender a navegar nas águas da emoção se quisermos ter qualidade de vida no mundo estressante .
O mundo da emoção não aceita atos heróicos tais como: "De hoje em diante acordarei bem-humorado", "Daqui para frente serei uma pessoa calma", "De agora em diante serei uma pessoa feliz, com alto astral e cheia de auto-estima". Grande engano! No calor da segunda-feira todas essas intenções se evaporam...
No mundo da emoção as palavras-chaves são "treinamento" e "educação". Você precisa treinar sua emoção para ser feliz. Você precisa educá-la para superar as perdas e as frustrações. Caso contrário, sua emoção nunca será estável e nem capaz de contemplar o belo nos pequenos eventos da rotina diária. Você contempla o belo?
Pisou nesta Terra um excelente mestre da emoção. Ele conseguia erguer os olhos e enxergar o belo num ambiente de pedras e areias. No auge da fama e sob intensa perseguição, ele fazia pausas e dizia: "Olhai os lírios do campo."
Somente alguém plenamente feliz e em paz é capaz de gerenciar seus pensamentos e fazer de uma pequena flor um espetáculo aos seus olhos.
Entretanto, muitos não conseguem ter prazer de viver. Eles estão desanimados e ansiosos. Por isso dizem: "A felicidade não existe. Ela é um sonho de homens que não acordam." Eles se sentem sem forças para superar seus pensamentos negativos e para vencer as batalhas do dia-a-dia. Alguns, apesar de não terem problemas exteriores, também perderam o sentido da vida.
A vida é belíssima, mas não é tão simples vivê-la. Às vezes, ela se parece com um imenso jardim. De repente, a paisagem muda e ela se apresenta árida como um deserto ou íngreme como as montanhas. Independentemente dos penhascos que temos de escalar, cada ser humano possui uma força incrível. E muitos desconhecem que a possuem.
CURY,Augusto.Da Obra: Você é Insubstituível.Ed. Sextante.