Minutos de Paz !

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Simão, o Mendigo - João de Deus.


Simão, o Mendigo

João de Deus



Doente, pobre, velhinho,

o desditoso Simão,

arrimado a seu bordão,

andava devagarzinho...


Pés e mãos em chaga aberta,

lá ia o velho coitado!

enfermo, desamparado

e humilde na estrada incerta.


Cabelo todo branquinho

rugosa a face morena,

o pobre metia pena

a vagar pelo caminho...


De onde viera? Ora, quem

buscava saber ao certo?

vinha de longe ou de perto?

ninguém sabia, ninguém.


Só lhe sabiam do nome,

e que, em miséria, sem nada,

ele esmolava na estrada,

a fim de matar a fome.


Estendendo seu chapéu,

pedia, cheio de dor:

- Uma esmola, meu senhor,

por amor ao Pai do Céu!...


Mas, oh! Deus, que desalento

neste mundo de aflição!

Ninguém ouvia Simão

nas horas do sofrimento.


- Passai de largo! É leproso!...

Diziam homens cruéis –

- Oh! Não vos aproximeis

deste ancião perigoso!...


- Ah! Que graça! Põe-te à brisa! –

exclamava outro passante –

nada de esmola ao tratante,

que este velho não precisa!...


O mendigo, nos seus ais,

dizia: - Viva a saúde!

Trabalhei enquanto pude,

agora, não posso mais...


Toda a gente lhe fugia,

ninguém lhe dava uma sopra,

nem um trapinho de roupa

para a noite da agonia.


Muito tempo era passado,

e o desditoso velhinho

sentia-se mais sozinho,

mais doente, mais cansado...


Chegou, enfim, um momento

em que o velho sofredor

caiu de frio e de dor

na estrada do sofrimento.


Caiu e sonhou, contente,

embora a sede e o cansaço,

que Jesus vinha do Espaço

dizendo-lhe, docemente:


“– Escuta, meu bom Simão,

não temas, querido amigo!

sê forte! Eu estou contigo.

chegaste à ressurreição.


Não chores. Estou aqui!...

terminou tua aflição,

estás em meu coração!

pensavas que te esqueci?


Enquanto o mundo enganado

atormentava-te ao peso

de zombaria e desprezo,

eu sempre estive ao teu lado.


Teus prantos e tuas dores

são, hoje, a luz que te veste

no campo do amor celeste,

repleto de eternas flores”.


E Jesus, em voz mais terna,

concluía: - “Vem Simão,

à doce consolação

do mundo de luz eterna!...


E Simão, chorando e rindo,

a seguir, ditoso, o Mestre,

esqueceu a dor terrestre,

no céu venturoso e lindo.


O caminho era de estrelas

de tão sublime matiz

que o pobre ria, feliz,

sem saber como entende-las.


No outro dia, ao reconforto

acharam Simão sem vida...

o mendigo estava morto.



XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito  João de Deus. Livro Antologia Mediúnica do Natal . Autores Diversos.

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