A Mulher Samaritana
Amílcar Del Chiaro Filho
Este é um das mais lindas
passagens do Evangelho, e é privativo de João, no capítulo 4: 4 a 30.
Vamos
aproveitar os esclarecimentos dados por Carlos Torres Pastorino, no livro -
Sabedoria do Evangelho, porém, vamos abordar uma versão mais simbólica ou
esotérica, fechada, mesmo reconhecendo que os elementos objetivos sejam
importantes.
Para compreendermos essa passagem
em profundidade, precisamos conhecer elementos históricos que deram nascimento
a animosidade entre judeus e samaritanos.
Essa inimizade era tão forte, que
eles não se falavam, sequer se cumprimentavam.
Não sabemos muito sobre as razões
históricas, mas o que sabemos até agora é que, as 12 tribos que compunham a
nação, se separaram devido a sucessão de Salomão.
Quando o Rei Salomão morreu, dois
dos seus filhos pretendiam o trono.
Dez tribos apoiavam um deles, e
duas o outro.
Houve um "cisma" seguido de luta, e as dez tribos se
afastaram e fundaram o Reino de Israel, ou a Samaria.
Herodes, o Grande, fez ali
grandes construções e denominou-a Sebastes, (Cidade da Samaria).
Outros povos não judeus se
agregaram à região, que pelo seu crescimento passou a ser um Reino separado da
Judéia.
A rivalidade, que nasceu com a
sucessão de Salomão, portanto, muito antiga, aumentou com o retorno do povo
judeu e samaritano que ficaram alguns séculos escravizados na Babilônia.
Quando
Dario, o rei Persa derrotou a Babilônia, permitiu que os judeus retornassem ao
seu país, um dos primeiros grupos a retornar, foi liderado pelo sacerdote
Zorababel, e dele fazia parte judeus e samaritanos.
Em Jerusalém, encontraram o
Templo de Salomão completamente destruído e iniciaram a sua reconstrução,
porém, os companheiros de Zorababel não aceitaram a participação dos samaritanos
na reconstrução.
Mais tarde expulsaram Manassés, sacerdote samaritano de
Jerusalém, e este liderou a construção de um Templo tão rico e tão belo quanto
o de Jerusalém, embora menor, tendo um clero regular, no Monte Garizim, na
Samaria.
Deste modo, os samaritanos ficavam isentos de terem que ir a Jerusalém
cumprir suas obrigações rituais.
O Templo do Monte Garizim foi
destruído 129 anos a.C. - numa das batalhas, pelo rei dos judeus, João Hircano.
Entretanto os samaritanos continuaram cumprindo os seus rituais nas ruínas do
Templo.
Jesus estava na Judéia (que
significa louvor a Deus) e resolveu voltar para a Galiléia (jardim ou horto
fechado).
Não era a primeira vez que ele fazia isto, mas, desta vez tomou um
caminho diferente, caminho que passava por terras samaritanas.
Os discípulos
não sabiam porquê, mas não ousavam perguntar.
A verdade é que Jesus tinha um
encontro marcado no espaço e no tempo, com uma mulher.
Ela não sabia, mas ele
sim.
Cerca de meio dia, região muito quente, a pequena comitiva pára junto ao
Poço de Jacó, e Jesus envia os discípulos à cidade próxima para comprar
provisões.
Senta-se à sombra e espera.
A mulher não sabia, contudo, era
alguém pronta a receber a iniciação superior (quando o discípulo está pronto, o
Mestre aparece).
A mulher samaritana (alma vigilante) descia diariamente ao
poço do coração, porque sabia intuitivamente, que um dia o Mestre dos mestres,
apareceria.
Naquele momento toma a sua "bilha" de barro", a
corda, e encaminha-se para o poço, o único existente numa área de vários
quilômetros.
Ali chegando amarra a comprida corda (39 metros) no cântaro e
desce-o, olhando aquele moço judeu com o canto do olho.
Quando ela já estava
puxando a vasilha cheia para a borda, ouviu:
- Mulher, dá-me de beber! - disse
Jesus incisivo.
- Como sendo tu judeu, pede água
a mim, que sou mulher samaritana?
- Se soubera o Dom de Deus e quem
é aquele que te diz, "dá-me de beber", tu lhe terias pedido e ele te
daria a água viva.
- Senhor, não tens com que a
tirar e o poço é fundo, donde, pois, tens essa água viva?
És tu, por ventura,
maior que o nosso Pai Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele e os seus
filhos e seu gado?
- Todo que bebe desta água,
tornará a ter sede, mas quem beber da água que eu lhe der, se tornará nele uma fonte
de água para a vida imanente.
O diálogo prosseguiu entre Jesus
e a espantada mulher, que pediu da água para não mais ter que retirá-la do
poço(lei do menor esforço).
Esta é a posição da maioria das pessoas que
procuram nas religiões meios de melhorar de vida, de curar doenças e de não
sofrer.
Mesmo no movimento espírita, um grande número de pessoas vão ao centro
para curar doenças, afastar obsessores, conseguir emprego, ser feliz.
A maioria
não sabe, ou finge não saber, que a felicidade é construção íntima e não pode
ser adquirida exteriormente.
Jesus usou o simbolismo da água
porque ali era uma região árida.
Quem beber da água do conhecimento nunca mais
terá sede e será uma fonte de ensinamentos e consolações para quem precisar.
É
a água transformada em vinho, que sacia a sede e embriaga de conhecimento e
felicidade.
Jesus mandou que ela fosse chamar
o seu marido e ela disse que não tinha marido.
O moço Galileu respondeu que
cinco maridos ela teve e que o homem com que, ela vivia não era seu marido.
A
mulher ficou pasmada e disse que ele era profeta (médium).
As pessoas precisam
sempre de coisas inusitadas para acreditar.
Os cinco maridos, e o homem com
quem ela vivia, sem ser seu marido, não tem o significado de esposos ou
amantes, mas sim, cinco grandes religiões da humanidade, que ela desposara em
suas diversas reencarnações, e com nenhum deles aconteceu o verdadeiro
esponsalício, isto é, as Bodas do espírito imortal com a verdade superior e
eterna.
Nem mesmo a situação que ela vivia naquele momento, o judaísmo, na
condição ou ótica samaritana.
A. N. Wilson narra no seu livro
Jesus - Uma Biografia - que no ano 605 antes da Era Cristã, cinco tribos da
Babilônia se estabeleceram em Samaria, trazendo consigo seus deuses tribais.
Tais indivíduos, com o passar do tempo, embora não abandonando inteiramente os
próprios deuses babilônicos, passaram a adorar, também, Jeová.
Devemos
considerar a mulher samaritana como um símbolo de Samaria, os cinco inúteis
maridos como os cinco deuses trazidos da Babilônia por seus ancestrais, sendo o
verdadeiro marido da sua alma o homem ao seu lado, que lhe oferece a água da
vida eterna?
Na verdade as religiões não podem
salvar ninguém.
Foi por esse motivo que Jesus afirmou que Deus procura aqueles
que o amam em verdadeiro espírito, sem interferência da matéria, da emoção ou
da sensibilidade. É a conquista da consciência cósmica.
O restante da passagem não
desperta em mim o mesmo interesse, a não ser quando Jesus diz aos seus
discípulos que eles colhem o que outros plantaram, porque a semeadura da
verdade já vinha sendo feita há milênios, pelos grandes missionários que
encarnaram na Terra, como, Rama, Crisna, Hermes Trimegisto, Abraão, Moisés,
Buda, Sócrates, Platão, Pitágoras e tantos e tantos outros.
Examinemos, na visão de
Pastorino, alguns pontos importantes:
A mulher samaritana descia diariamente ao
poço do coração e ali encontrou o seu Cristo interior.
Confabulou com ele e
descobriu que Deus deve ser adorado em verdadeiro espírito, e não em templos de
pedra, mesmo que ajaezado de ouro.
Não existe santuário mais próprio que o
coração do homem para adorar a Deus.
Cairbar Schutel, no livro,
Parábolas e Ensinos de Jesus - destaca as palavras de Jesus:
o "dom"
de Deus, é mais do que judeu, é mais que samaritano, é a luz que nos guia para
a verdade.
Que essa luz não é privilégio de castas, de seitas, de famílias.
Jesus, sendo judeu de nascimento e afirmando que não era verdadeira a adoração
no Templo de Jerusalém, assim como não era o Monte Garizim
Vale registrar que Carlos Torres
Pastorino, baseado, não sabemos em que, afirma que João Evangelista era a
reencarnação de Samuel, e a mulher samaritana, 15 séculos depois, reencarnou
como Teresa D’ávila, a única mulher que recebeu o título de Doutora da Igreja.
ESPÍRITO.ORG.BR. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/cursos/amilcar/cap07.html. Acesso: 12 OUT 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
“Deixe aqui um comentário”