Minutos de Paz !

sexta-feira, junho 16, 2017

A Magia das Células - Bruce H. Lipton








A Magia das Células

Uma incursão sobre a epigenética

Bruce H. Lipton



Quando eu tinha sete anos de idade, subi em uma caixa na sala aula para espiar pela lente de um microscópio. 


Para minha decepção, a única imagem que vi foi a da luz refletida. 


Aos poucos consegui conter minha ansiedade e ouvir as explicações da senhora Novak sobre como regular o foco. 


Então, algo tão dramático aconteceu que modificou completamente minha vida: vi um protozoário. 


Fiquei hipnotizado. 


O barulho das outras crianças ficou distante e me senti sozinho na sala. 


Todo o meu ser pareceu mergulhar no mundo alienígena das células, algo que até hoje é mais interessante para mim do que qualquer filme feito por computador.


Na inocência de minha mente infantil, eu via aquele organismo não como uma célula, mas como uma pessoa em tamanho diminuto, um ser pensante e consciente. 


Para mim, ele não estava nadando a esmo, mas sim cumprindo uma missão, embora eu não soubesse como descrever isso tudo naquela época. 


Fiquei observando seus movimentos ao redor de um grupo de algas. 


Nesse instante, o grande pseudópodo de uma ameba desengonçada também começou a se mover. 


Então, enquanto eu fazia minha viagem maravilhosa naquele mundo liliputiano, Glenn, o mais perverso de meus colegas de classe, me empurrou para descer da caixa e tomou meu lugar diante do microscópio. 


Tentei convencer a professora Novak a me deixar ver mais um pouco, mas a aula estava terminando e outros alunos também esperavam sua vez. 


Naquela tarde corri para casa e contei, esbaforido, minha descoberta à minha mãe. 


Usando todos os poderes de persuasão que a idade me permitia, implorei e a bajulei até conseguir que ela comprasse um microscópio para mim. 


Passava horas maravilhado com aquele mundo alienígena do outro lado da lente[...]  


Mais tarde, na faculdade, passei a usar um microscópio eletrônico, mil vezes mais potente. 


A diferença é mais ou menos como a dos telescópios que os turistas usam para ver cenas da cidade do alto dos edifícios comerciais em relação aos do tipo Hubble, que transmitem imagens do espaço sideral. 


Entrar na ala de microscópios de um laboratório é como uma cerimônia iniciática para estudantes que aspiram a se tornar biólogos. 


O portal desse mundo maravilhoso é uma porta giratória preta como aquelas que isolam as salas escuras de revelação de filmes fotográficos. 


Até hoje me lembro da primeira vez que passei por ela. 


Era uma divisória entre dois mundos: minha vida de estudante e meu futuro como cientista e pesquisador. 


Quando a porta terminou de girar, eu me vi em uma sala grande e escura, iluminada apenas por pequenas lâmpadas vermelhas de segurança. 


Enquanto meus olhos se adaptavam à escuridão, fiquei assombrado com o que vi. 


As luzes vermelhas refletiam a superfície espelhada de uma imensa coluna de aço inoxidável com lentes eletromagnéticas que subiam até o teto no centro da sala e na base da coluna havia um grande painel de controle que lembrava os de um Boeing 727, cheio de chaves, botões, medidores c luzes indicadoras. 


Na base também havia muitos fios, mangueiras e cabos de vácuo que se espalhavam como tentáculos ou como as raízes de uma árvore. 


O som das bombas de vácuo e de circuladores de água para refrigeração enchiam o ambiente. 


Tive a nítida impressão de estar entrando na sala de comando da nave U.S.S. Enterprise. 


Mas aparentemente aquele era o dia de folga do capitão Kirk, pois quem estava à frente dos comandos era um de meus professores, ocupado com o complexo processo de colocar uma amostra de tecido orgânico em uma câmara de vácuo no centro da coluna de metal. 


Enquanto os minutos passavam, comecei a ter a mesma sensação que tive aos sete anos de idade, quando vi uma célula pela primeira vez. 


Finalmente, uma imagem verde fluorescente surgiu tia tela. 


Mal se podia distinguir as manchas escuras do plasma. 


A imagem estava ampliada em 30 vezes seu tamanho original. 


O professor começou então a aumentar o tamanho, passo a passo: 100 vezes, 1.000 vezes, 10.000 vezes. 


Quando chegou ao ponto máximo sem distorção, o microscópio havia ampliado a imagem em 100.000 vezes. 


Era realmente uma cena de jornada nas estrelas, mas em vez de viajarmos pelo espaço estávamos indo em direção ao microcosmo, onde "nenhum ser humano jamais esteve". 


Em um momento, estávamos observando uma célula em miniatura e, no momento seguinte, podíamos observar toda a sua arquitetura molecular. 


A sensação que tive ao cruzar aquela barreira científica foi indescritível, principalmente porque fui convidado a ser co-piloto honorário naquele dia. 


Tive a honra de tocar os controles e "voar" sobre aquela paisagem alienígena celular. 


Meu professor foi meu guia turístico, indicando os pontos principais: 


"Aqui está uma mitocôndria, seu complexo golgiense ali um poro nuclear, uma molécula de colágeno e mais adiante um ribossomo". 


A ideia de ser um pioneiro, aventurando-me por territórios jamais vistos por olhos humanos me fascinava. 


O microscópio simples despertou minha atenção para o mundo das células e de sua consciência, mas foi o microscópio eletrônico que me permitiu vislumbrar as moléculas que são a base da vida. 


Sentia que em algum lugar dentro daquela "citoarquitetura" da célula eu encontraria algo que me levaria a desvendar os grandes mistérios da existência. 


Por um instante, aquelas lentes se transformaram em bolas de cristal e na tela fluorescente eu vi meu futuro. 


Senti que seria um biólogo celular e que iria pesquisar com detalhe todas as nuances da ultraestrutura celular para descobrir seus segredos. 


Afinal, estava aprendendo na própria faculdade que a estrutura e a função dos organismos biológicos estão intimamente ligadas. 


Tinha certeza de que, estudando mais profundamente a relação entre a anatomia e o comportamento das células, eu conseguiria entender seu mecanismo. 


Dediquei então todo o meu tempo livre durante a faculdade, mestrado e doutorado à pesquisa da anatomia molecular, pois ali estava a chave do que eu procurava. Minha curiosidade sobre estes "segredos da vida" também me levou a pesquisar a clonagem de células humanas. 


Dez anos após meu primeiro contato com um microscópio eletrônico, eu me tornara um membro do corpo docente da Escola de Medicina da Universidade de Wisconsin, internacionalmente reconhecido por minhas pesquisas sobre clonagem de células-tronco e respeitado dentro da faculdade por minhas habilidades de professor. 


E utilizava microscópios eletrônicos ainda mais poderosos que me permitiam visualizar imagens tridimensionais de organismos vivos para observar bem de perto a base da vida. 


Embora as ferramentas agora fossem mais sofisticadas, meus objetivos ainda eram os mesmos. 


Jamais perdi a convicção adquirida aos sete anos de idade ao ver pela primeira vez a imagem de um protozoário em um microscópio. A vida das células tinha de ter um propósito.


A única coisa que permanecia sem propósito era minha vida pessoal. 


Não acreditava em Deus, embora deva confessar que quando imaginava a possibilidade de sua existência a figura que surgia em minha mente era sempre a de um grande e perverso controlador com senso de humor deturpado. 


Eu era, afinal, um biólogo tradicional, para quem a existência de Deus era uma questão totalmente irrisória. 


Considerava a vida mera consequência do acaso, como a sorte no jogo. 


As probabilidades dos resultados genéticos são as mesmas de um dado rolando sobre uma mesa. 


O lema de nossa profissão desde a época de Charles Darwin era: 


"Deus? Não precisamos de um Deus". 


Não que Darwin negasse a Sua existência. 


Ele simplesmente afirmava que o acaso, e não a intervenção divina, é o verdadeiro responsável pela vida na Terra. 


Em seu livro A origem das espécies, publicado em 1859, Darwin afirma que as características individuais são passadas dos pais para os filhos e que estas são "fatores hereditários" que controlam a vida de todos nós. 


Essa afirmação levou os cientistas a uma busca frenética para dissecar todas as partes que compõem as moléculas em uma tentativa de decifrar os mecanismos hereditários responsáveis pela vida.


A pesquisa chegou ao fim 50 anos atrás, quando James Watson e Francis Crick descreveram a estrutura e a função da espiral dupla do DNA, o material do qual os genes são feitos. 


Os cientistas finalmente entendiam os "fatores hereditários" que Darwin mencionou em seus manuscritos no século 19. 


Os jornais anunciaram a nova engenharia genética, a promessa de bebês com características programadas e os medicamentos milagrosos. 


Até hoje me lembro das manchetes daquele dia memorável em 1953: 


"Descoberto o segredo da vida". 


Os genes passaram então a ser a explicação para tudo e os mecanismos pelos quais o DNA controla a vida biológica se tornaram o dogma central da biologia molecular, descrito com detalhes em todos os livros e pesquisas. 


A longa discussão sobre as características que herdamos ou que adquirimos durante a vida acabou. 


Os cientistas estavam certos de que tudo é herdado de nossos pais. 


No início, pensavam que o DNA fosse responsável apenas por nossas características físicas. 


Com o tempo passaram a acreditar que nossos genes também controlavam nossas emoções e comportamento. 


Portanto, se alguém nascesse com um gene de felicidade defeituoso só poderia esperar ter uma vida infeliz. 


Eu me considerava uma dessas pessoas; uma vítima da fatalidade de ter um gene de felicidade mutante ou mesmo ausente. 


Justamente nessa época estava passando por muitos problemas em minha vida.


Meu pai estava morrendo após uma longa e dolorosa batalha contra o câncer. 


E como eu era o responsável por ele, passei os quatro últimos meses de sua vida viajando duas a três vezes por semana de Wisconsin para Nova York. 


Ao mesmo tempo, coordenava um programa de pesquisas, lecionava e escrevia a tese de renovação de meu título de mestrado no National Institutes of Health. 


Para completar, estava em meio a um divórcio que me consumia emocional e financeiramente. 


Minhas economias se esvaíram rapidamente entre custas de advogados e pensão para meus dependentes. 


Acabei apenas com uma mala de roupas e morando em um apartamento alugado em um prédio que não recomendaria a meus piores inimigos. 


Tinha medo de meus vizinhos, especialmente o do apartamento ao lado. 


Na primeira semana após me mudar, a porta foi arrombada e meu aparelho de som desapareceu. 


Alguns dias depois, meu vizinho (de 1,90 m de altura e pelo menos 90 cm de largura) tocou a campainha com uma lata de cerveja em uma das mãos e palitando os dentes com a outra para me perguntar se eu tinha o manual de instruções do aparelho. 


Mas o ponto alto foi quando atirei o telefone pela porta de vidro de meu escritório, despedaçando inclusive a placa de "Bruce H. Lipton, Professor Adjunto de Anatomia, Escola de Medicina da Universidade de Wisconsin", gritando "eu vou enlouquecer!" 


O ataque de nervos foi causado pelo telefonema de um gerente de banco que me explicou de maneira gentil, porém direta, que não poderia me conceder um empréstimo. 


Parecia uma cena do filme Laços de ternura em que Debra Winger responde ao marido: "Não temos dinheiro para pagar nossas contas agora. 



E, pelo jeito, não vamos ter nunca!"







A Magia das Células - Dèjá - Vu 




Sem querer, acabei encontrando uma válvula de escape. 


Tirei licença de um ano e fui lecionar em uma universidade no Caribe. 


Claro, meus problemas não iriam desaparecer simplesmente pelo fato de eu estar longe, mas quando o avião decolou de Chicago fiquei tão feliz que precisei me controlar para não gargalhar. 


Uma alegria imensa me invadiu e me senti como naquele dia, aos sete anos de idade, quando descobri o mundo mágico das células. 


A felicidade aumentou ainda mais quando entrei no pequeno avião de seis passageiros que fez a ponte aérea até Monserrat, uma pequena e isolada ilha de apenas 19 quilômetros no meio do Mar do Caribe. 


Se o Jardim do Éden realmente existiu, com certeza era bem parecido com aquele lugar, um pedaço do paraíso circundado pelo imenso mar cristalino verde-azulado. 


Quando o avião pousou e a porta se abriu, fiquei embriagado pelo cheiro das flores de gardênia que veio com a brisa. 


Os moradores da ilha tinham o hábito de interromper seus afazeres para observar o pôr-do-sol, um ato de contemplação tão relaxante do qual em poucos dias eu me tornei um adepto fiel. 


Às vezes mal podia esperar para assistir àquele maravilhoso show no final da tarde. 


Minha casa ficava em uma espécie de penhasco 1.500 metros acima do oceano, virada para o oeste e, seguindo uma pequena trilha, logo em frente eu podia descer até a água. 


Havia também uma pequena gruta com uma passagem cheia de árvores, plantas e flores que levava a uma praia deserta, onde eu iniciava o ritual de assistir ao pôr-do-sol mergulhando e deixando para trás todos os meus problemas diários. 


Depois me aconchegava na areia clara e macia para assistir ao espetáculo do sol desaparecendo lentamente mar adentro. 


Ali, longe do estresse e da competição mercenária do mundo, comecei a ver a vida sem os bloqueios e as limitações das crenças dogmáticas da civilização. 


No início, não conseguia deixar de criticar e lamentar o desastre que minha vida tinha sido até aquele momento. 


Mas aos poucos comecei a colocar de lado as batalhas internas e a rever com mais calma meus 40 anos de vida. 


Aprendi novamente a vivenciar o momento presente, exatamente como fazia quando criança. 


Reaprendi a sentir o prazer de estar vivo. 


Acabei me tornando mais humano e humanitário naquela ilha paradisíaca. Também cresci como profissional. 


Quase toda a minha formação científica havia sido dentro de salas de aula, auditórios e laboratórios frios e estéreis. 


Meu contato com aquele ecossistema tão rico me fez ver a biologia como um sistema vivo e integrado, e não mais como um conjunto de espécimes dividindo espaço em um planeta. 


Passeando pelas florestas e mergulhando entre os recifes de coral, pude observar de perto plantas e animais em seu habitat e perceber melhor sua interação. 


Existe um equilíbrio delicado e dinâmico entre todas as formas de vida e o ambiente. 


O que descobri nos Jardins do Eden do Caribe foi harmonia e não uma luta desesperada pela sobrevivência. 


Percebi que a biologia tradicional dá pouca ou nenhuma importância à questão da cooperação, pois a teoria de Darwin enfatiza apenas a natureza competitiva dos seres vivos. 


Para o desgosto de meus colegas norte-americanos, retornei a Wisconsin protestando e argumentando contra todos os princípios e crenças da biologia tradicional. 


Criticava abertamente Charles Darwin e sua teoria da evolução. 


Os biólogos me viam como um padre que se volta contra o Vaticano e acusa o papa de ser impostor. 


Todos pensaram que um coco havia caído em minha cabeça quando pedi demissão da universidade para seguir um sonho de minha vida: entrar para uma banda de rock e fazer uma turnê. 


Produzi um show de laser com Yanni, que havia se tornado uma celebridade no mundo musical. 


Mas logo percebi que tinha mais talento como professor e pesquisador do que como produtor de shows de rock. 


Entrei em crise, acabei desistindo do mundo da música e voltei ao Caribe para lecionar biologia celular. 


Mas a fase final de minha vida acadêmica foi na Escola de Medicina da Universidade de Stanford, agora defendendo e propagando abertamente a "nova" biologia. 


Questionava não apenas Darwin e sua versão canibal da evolução, mas também o dogma central da biologia, segundo o qual os genes controlam a vida. 


Este dogma tem uma séria falha: os genes não ligam-desligam sozinhos. 


Ou, em termos mais técnicos, não são aquilo que chamamos de "auto-emergentes". 


E preciso que fatores externos do ambiente os influenciem para que entrem em atividade. 


Os biólogos já sabiam disto havia muito tempo, mas o fato de seguirem cegamente os dogmas da ciência os fazia ignorar esse conhecimento. 


Por isso, cada vez que eu me manifestava era duramente criticado por todos. 


Tornei-me um candidato à excomunhão; um bruxo para ser queimado na fogueira! 


Na palestra que tive de apresentar durante o processo de entrevistas para a vaga de professor em Stanford, acusei todo o corpo docente, inclusive muitos dos renomados geneticistas ali presentes, de se comportarem exatamente como os fundamentalistas religiosos, aceitando o dogma central mesmo sabendo de todas as suas falhas. 


A plateia se alvoroçou, gritando e vociferando contra mim. 


Concluí que meu processo de entrevistas havia terminado. 


Mas, para minha surpresa, as pesquisas e descobertas que apresentei sobre a nova biologia os entusiasmaram a tal ponto que decidiram me contratar. 


Agora, finalmente, eu tinha o apoio dos grandes cientistas de Stanford, principalmente o do diretor do Departamento de Patologia, para colocar em prática minhas ideias sobre a pesquisa de clonagem de células humanas. 


E para o espanto de todos, os resultados confirmaram as teorias e princípios que eu havia apresentado. 


Publiquei dois ensaios sobre minhas pesquisas e deixei então o mundo acadê-mico, desta vez definitivamente (Lipton et al., 1991, 1992). 


Tomei a decisão de abandonar a carreira acadêmica porque, apesar de todo o apoio que recebia em Stanford, sentia que minhas teorias não tinham a atenção que mereciam. 


Mas, desde que deixei o cargo, novas pesquisas confirmam a todo instante meu ceticismo em relação ao dogma central e ao princípio de que o DNA é que controla a vida. 



Na verdade, a epigenética, que é o estudo dos mecanismos moleculares por meio dos quais o meio ambiente controla a atividade genética, é hoje uma das áreas mais atuantes da pesquisa científica em geral. 


O papel do meio ambiente no controle das atividades dos genes já era o foco de minhas pesquisas 20 anos atrás, antes mesmo de a ciência se interessar pelo assunto (LIPTON, 1977a, 1977b). 


É gratificante saber que hoje mais pesquisadores se interessam por esta área. 


Mas tenho certeza de que, se estivesse lecionando em uma escola de medicina, meus colegas ainda imaginariam se um coco não caiu em minha cabeça enquanto eu estive no Caribe. 


Nestes últimos dez anos me tornei ainda mais radical em relação aos padrões acadêmicos e minha preocupação com a nova biologia hoje é muito mais que mero exercício intelectual. 


Acredito que as células podem nos ensinar muito não apenas sobre os mecanismos da vida, mas também como viver de maneira mais rica e completa. 


Para os elevados padrões da ciência tradicional, o único prêmio que ideias como as minhas merecem é o de "cientista maluco". 


O que muitos cientistas ainda consideram antropomorfismo, ou melhor, citopomorfismo, eu chamo de "biologia 101". 


Você pode se considerar um indivíduo, mas como biólogo celular eu lhe digo que você é uma grande comunidade cooperativa de aproximadamente 50 trilhões de células e que a maioria delas vive como amebas, ou seja, organismos que desenvolvem uma estratégia cooperativista para a sobrevivência de todos. 


Em termos mais simples: 


os seres humanos são meros resultados de uma "consciência amebóide coletiva". 


Assim como uma nação reflete as características de seus cidadãos, nossa condição humana reflete a natureza de nossa comunidade celular.






Aprendendo com as Células



Estudando essas comunidades celulares cheguei à conclusão de que não somos vítimas de nossos genes e sim donos de nosso próprio destino, capazes de criar uma vida cheia de paz, felicidade e amor. 


A primeira cobaia dessa teoria fui eu mesmo, pois as pessoas para quem eu dava palestras sempre me perguntavam por que minhas descobertas não tinham me transformado em uma pessoa mais feliz. 


E estavam certas. 


Eu tinha de colocar em prática meus próprios ensinamentos. 


Só percebi que isso estava acontecendo algum tempo depois, quando estava tomando café em uma lanchonete numa bela manhã de domingo. 


A garçonete comentou enquanto trazia meu pedido: 


"Puxa, você é a pessoa mais feliz que eu já vi. 


O que aconteceu de tão bom em sua vida para você ficar assim?" 


Quase caí da cadeira tão grande foi minha surpresa, mas respondi sem pensar:


"Estou nas nuvens!" 


A garçonete balançou a cabeça e saiu murmurando "cada maluco que aparece por aqui..."


Mas era verdade. 


Eu estava muito feliz, como jamais havia estado em minha vida. 


Muitos leitores vão achar exagerado meu conceito de que a Terra é o paraíso, pois a associação mais comum que fazemos de paraíso é a de moradia da divindade e/ou dos que já morreram. 


Como alguém pode dizer então que uma cidade como Nova Orleans é uma extensão do paraíso? 


Suas ruas estão cheia de homens, mulheres e crianças vivendo como mendigos; o ar é tão poluído que nem se pode ver as estrelas no céu à noite. 


A água de seus rios é tão suja que somente formas de vida "estranhas" podem existir ali. 


Como chamar um lugar desses de paraíso? 


Como uma divindade pode viver em uma cidade assim? 


E o que este autor maluco chama de divindade? 


Será que ele conhece alguma pessoalmente? 


A resposta para essas perguntas é: sim, acredito que vivemos no paraíso. 


Devo confessar que não conheço todas as divindades pessoalmente, pois não conheço todos os seres humanos. 


Afinal, são mais de seis bilhões! 


Também não conheço todos os membros dos reinos animal e vegetal. 


Mas sei que todos vocês fazem parte de um único ser: Deus. 


Como disse Tim Taylor no seriado "Tool time": 


"Espera aí! Ele está dizendo que os seres humanos são Deus?" 


Sim... mas não sou o primeiro a fazer esse tipo de afirmação. 


Está escrito na Gênese que somos feitos à imagem e semelhança de Deus. 


Ninguém diria que um cientista tão racional quanto eu acabaria citando mestres como Jesus, Buda ou Rumi ou que minha visão reducionista da vida acabaria dando lugar à espiritualidade. 


Mas se somos realmente a imagem de Deus precisamos colocar novamente o espírito na equação quando se trata de melhorar nossa saúde física e mental. 


Outro aspecto a ser revisto quando se trata de seres humano é que não somos meras máquinas bioquímicas que podem recupera o equilíbrio físico e mental simplesmente tomando medicamentos Remédios e cirurgias são ferramentas muito eficazes desde que utilizados com cautela. 


O conceito de que podem resolver todos os problemas está errado. 


Cada vez que um medicamento é introduzido no organismo para corrigir um problema "A" acaba inevitavelmente causando um problema "B", "C" ou "D". 


E também não são os hormônios e neurotransmissores, controlados pelos genes, que dirigem nossa mente, nosso corpo e nossa vida, mas sim nossas crenças... 


Sim, homens de pouca fé! São nossas crenças que co-mandam nossa existência.



A Mente Consciente esta Muito Alem da Mera Programação Genética


Ao escrever este livro, sinto-me como se estivesse desenhando uma linha na areia, que divide a história da humanidade. 


De um lado está o neodarwinismo, que dispõe a vida como uma eterna batalha entre robôs bioquímicos, e do outro está a "nova biologia", que a considera uma jornada de cooperação entre indivíduos de vontade própria que podem se programar para criar uma existência cheia de felicidade. 


Ao cruzar essa linha, passamos a entender claramente os conceitos da nova biologia, encerrando definitivamente a polêmica sobre aquilo que é natural em nós ou que herdamos de nossos pais. 


Percebemos que a mente consciente está muito além da mera programação genética. 


Creio que neste momento vivenciamos uma mudança profunda e pragmática em nosso modo de ver a vida, algo semelhante ao que aconteceu quando o conceito de que a Terra era redonda substituiu todas as crenças da época. 


Aos leigos que estiverem preocupados imaginando que este livro é muito técnico, aviso que podem ficar tranquilos. 


Mesmo em minha fase mais acadêmica, quando vivia de terno e gravata em intermináveis reuniões, jamais deixei de fazer algo que adoro: lecionar. 


E minha fase pós-acadêmica me permitiu colocar em prática toda a minha experiência de professor, pois viajei pelo mundo apresentando os princípios da nova biologia a centenas de pessoas. 


Tive de adaptar meu conhecimento acadêmico e utilizar uma linguagem acessível a todos com exemplos e ilustrações muito claros. 


São os que utilizei neste livro. 


O Capítulo 1 é sobre a "inteligência" das células e quanto das podem nos ensinar a respeito de nossa mente e de nosso corpo. 


O Capítulo 2 mostra as evidências científicas de que os genes não controlam os seres vivos e apresenta as fantásticas descobertas da epigenética, um novo campo da biologia que desvenda os mistérios de como o ambiente (natureza) pode influenciar o comportamento das células sem modificar o código genético. 


É uma nova face da ciência, que revela mais detalhes sobre o complexo sistema e estrutura das doenças, incluindo o câncer e a esquizofrenia. 


O Capítulo 3 é sobre a membrana ou "pele" das células. Você já deve ter ouvido falar que o núcleo das células contém DNA, mas talvez ainda não saiba sobre a membrana que as reveste. 


A ciência hoje pesquisa e revela detalhes sobre algo que eu já havia concluído 20 anos atrás: que a membrana é o verdadeiro cérebro de toda a atividade celular. 


O Capítulo 4 trata das descobertas da física quântica e seu impacto sobre a compreensão e o tratamento das doenças. 


Mas, infelizmente, a medicina tradicional ainda não a incorporou às suas pesquisas ou mesmo à sua formação acadêmica, o que representa grandes perdas tanto para a ciência quanto para a humanidade. 


No Capítulo 5, explico por que dei a este livro o nome de A biologia da crença. 


Os pensamentos positivos têm um efeito profundo sobre nosso comportamento e sobre nossos genes, mas somente se estiverem em harmonia com nossa programação subconsciente e o mesmo vale para os pensamentos negativos. 


Quando entendemos como as crenças positivas e negativas controlam nossa vida, podemos modificar esses padrões e passar a ter mais saúde e felicidade. 


O Capítulo 6 mostra que tanto as células quanto as pessoas precisam crescer e se desenvolver e como o medo pode impedir esse processo. 


O Capítulo 7 é sobre a paternidade consciente. 


Como pais, precisamos entender o papel que desempenhamos na programação das crenças de nossos filhos e o impacto destas crenças em sua vida. 


Recomendo a leitura deste capítulo mesmo a quem não tem filhos, pois um dia todos fomos crianças e entender esse mecanismo é crucial mesmo agora que somos adultos. 


No Epílogo, explico como a nova biologia me fez perceber a importância da integração espírito-ciência e como isso modificou radicalmente a visão agnóstica e científica que eu tinha a respeito do mundo. 


Você está pronto para usar sua mente consciente e ter mais saúde, felicidade e amor sem a necessidade de recursos da engenharia genética ou de medicamentos? 


Está pronto para abrir sua mente a uma realidade diferente daquela que foi criada pelos modelos médicos, considerando o corpo humano uma simples máquina bioquímica? 


Não se preocupe. 


Não estou apresentando um produto novo ou uma nova religião. 


E apenas um convite para que você deixe de lado por alguns instantes todas as crenças impostas pela mídia e pela ciência tradicional para vislumbrar o universo que se abre à sua frente com as descobertas da nova ciência.






FONTE

LIPTON, Bruce H. A biologia da crença. São Paulo: Butterfly, 2007.Ciência e espiritualidade na mesma sintonia: o poder da consciência sobre a matéria e os milagres Tradução Yma Vick , p. 11-16.


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