3 OFENSA E RESSENTIMENTO
Cornélio Pires
Você deseja de nós
Meu caro Luiz Sarmento,
Alguma fala qualquer,
Em torno ao ressentimento.
Diz você: “cá neste mundo
Não sei como me exprimir,
Se não aprendo, não sinto,
Se aprendo, devo sentir.
Se recebo alguma ofensa,
Zombaria ou pescoção,
Se nada disso me fere
Como guardar a lição?”
Sua palavra bem feita
Lançando o assunto no ar,
Dá muita filosofia,
Muita cousa que pensar...
Em toda questão de ofensa,
É necessário se insista:
Pede a vida que se mude,
O nosso ponto de vista.
Quem é aquele que ofende?
As vezes é um pobre louco...
De outras vezes, um doente
Que enlouquece pouco a pouco.
De que modo condenar
Quando me cabe entender,
Se todos somos no mundo
Capazes de adoecer?
Por isto, ressentimento
Dos enganos que se leva,
Quando embutido no peito,
Lembra um novelo de treva.
O ponto grave na ofensa
Está sempre na pessoa,
Que condena e se lastima,
Que se arrasa e não perdoa.
Surge a mágoa... Leve sombra
Numa estranha formação,
Depois recorda serpente
Por dentro do coração.
Faz tristeza, inimizade,
Vida irritada e insegura,
Discórdia, injúria, sarcasmo,
Separação, amargura...
Quem guarda ressentimento,
Note bem, veja você:
Coloca o mal no que sabe,
Veneno em tudo o que vê.
Ressentimento onde esteja
Traz sempre como é notório,
Muita doença imprevista,
Muita ficha em sanatório.
Se você sofreu ofensa,
Lembre o perdão de Jesus,
Quem se ofende ajunta sombras,
Quem perdoa tem mais luz.
Contra alguém, seja quem for,
Que nunca se erga a voz,
A justiça vem de Deus,
O agravo é que vem de nós.
Mesmo entre pedras e lutas,
O amor trabalha e auxilia...
O tempo emenda a nós todos,
Cada qual tem o seu dia.
XAVIER, Francisco Cândido pelo
Espírito Cornélio Pires. Retratos da vida. Cap.3.
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