7.A
CONFERÊNCIA
Valérium
Convidado a fazer uma preleção sobre a crítica, o conferencista compareceu ante o auditório superlotado, sobraçando pequeno fardo.
Após cumprimentar os presentes, retirou os livros e a jarra d’água de sobre a mesa, deixando somente a toalha branca.
Em silêncio, acendeu poderosa lâmpada, enfeitou a mesa com dezenas de pérolas que trouxera no embrulho e com várias dúzias de flores colhidas de corbelhas próximas.
Logo após, apanhou da sacola diversos “biscuits” de inexprimível beleza, representando motivos edificantes, e enfileirou-os com graça.
Em seguida,
situou na mesa um exemplar do Novo Testamento em capa dourada.
Depois, com
o assombro de todos, colocou pequenina lagartixa num frasco de vidro.
Só então
comandou a palavra, perguntando:
— Que vedes
aqui, meus irmãos?
E a
assembleia respondeu, em vozes discordantes:
— Um bicho!
— Um lagarto
horrível!
— Uma larva!
— Um pequeno
monstro!
Esgotados
breves momentos de expectação, o pregador considerou:
— Assim é o espírito da critica destrutiva, meus amigos!
Não enxergastes o forro de seda lirial, nem as flores, nem as pérolas, nem as preciosidades, nem o Novo Testamento, nem a luz faiscante que acendi...
Vistes
apenas a diminuta lagartixa...
E concluiu,
sorridente:
— Nada mais
tenho a dizer...
VIEIRA,
Waldo pelo Espírito Valérium. Bem aventurados os simples. Rio de Janeiro:
FEB,10ª ed., 1962, cap.7.
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