Minha Mãe
Vinícius de Moraes
Minha mãe,
minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo
da vida, minha mãe.
Canta a doce
cantiga que cantavas
Quando eu
corria doido ao teu regaço
Com medo dos
fantasmas do telhado.
Nina o meu
sono cheio de inquietude
Batendo de
levinho no meu braço
Que estou
com muito medo, minha mãe.
Repousa a
luz amiga dos teus olhos
Nos meus
olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor
que me espera eternamente
Para ir
embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser
que não quer e que não pode
Dá-me um
beijo na fronte dolorida
Que ela arde
de febre, minha mãe.
Aninha-me em
teu colo como outrora
Dize-me bem
baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em
sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os
que de há muito te esperavam
Cansados já
se foram para longe.
Perto de ti
está tua mãezinha
Teu irmão,
que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando
de levinho
Para não
despertar o sono teu.
Dorme, meu
filho, dorme no meu peito
Sonha a
felicidade. Velo eu.
Minha mãe,
minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a
renúncia. Dize que eu fique
Dize que eu
parta, ó mãe, para a saudade.
Afugenta
este espaço que me prende
Afugenta o
infinito que me chama
Que eu estou
com muito medo, minha mãe.
FONTE
VINICIUSDEMORAES. Minha mãe, Rio de Janeiro , 1933.Disponível em https://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/minha-mae. Acesso 12 MAIO, 2024.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
“Deixe aqui um comentário”