Servilismo
Hammed
“... A obediência e a
resignação, duas virtudes companheiras da doçura, muito ativas, embora os
homens as confundam erradamente com a negação do sentimento e da vontade.
A obediência é o consentimento da razão, a resignação é o
consentimento do coração...”(Capítulo 9, item 8).
A subserviência pode esconder falta de iniciativa,
passividade indesejável, complexo de inferioridade e uma imaturidade de
personalidade.
Obedecer não é negar a vontade e o sentimento, mas exercitar
o próprio poder de escolha para cooperar com os outros na produção de algo
maior e melhor do que aquilo que se faria sozinho.
Assim considerando, a obediência deve ser uma postura
interna, racional, lógica, compreensiva e a mais consciente possível.
Os problemas do servilismo ou da subserviência nas criaturas
foram gerados em muitas circunstâncias na infância, quando pais instigavam o
medo e a ameaça como forma de obter obediência dos filhos. Trata-se de um
propósito cômodo e muito rápido, mas contra-indicado na complexa tarefa de
educar.
Adultos que herdaram tal formação familiar, se não forem
espíritos maduros e decididos, com farta bagagem espiritual e valores
desenvolvidos, poderão viver com essa ―intrusão educacional.
Esse modo forçado de obedecer aos outros desenvolve neles
uma postura de anulação das próprias metas, pois substitui sua independência
pela vontade alheia.
Outros tantos trazem das vivências anteriores sentimentos de
culpa por abandonarem sem nenhuma consideração entes queridos.
São verdadeiros
―clichês mentais arquivados no inconsciente profundo, que detonam em
forma de obediência e servidão compulsória, para compensar o passado infeliz.
A Psicologia, por seu turno, assevera que certos indivíduos
desequilibrados por conflitos herdados na infância trazem enraizados em sua
personalidade uma necessidade enorme de satisfazer seus ―sentimentos de mando e ―de autoridade, sempre impondo ordens, métodos e regras que, obedecidos
passivamente, lhes trazem um enorme prazer e satisfação.
Essas pessoas ao entrarem em contato com personalidades
submissas, compensarão sua neurose de ―dar ordens‖, e em muitos casos, somam ao
seu impulso agressivo a ―neurose de autoridade, satisfazendo assim suas
características sádicas, dominando e afligindo essas criaturas servis, por anos
e anos.
O ser humano que se sujeita a ordens de comando vive
constantemente numa confusão mental, absorvendo na atmosfera íntima uma
sensação de ―não ter agradado o suficiente.
Numa tentativa inútil de cumprir e
concordar com ordens recebidas, cai quase sempre na decepção, na revolta e na
indignação, pois esperava receber amor e consideração pela obediência
executada.
Muitos de nós tivemos pais que nunca se importaram em nos
―impor limites, fatores indispensáveis para que a criança aprenda a conhecer o
―não‖, evitando a ilusão de que terá tudo a seu dispor e que jamais encontrará
obstáculos e dificuldades.
Viver querendo ter sempre nossos desejos realizados e
executados é ―exigir obediência‖, a qualquer preço, daqueles que nos cercam.
Paralelamente, com o passar do tempo, essa postura pode se
tornar inversa.
Ao invés de exigirmos sujeição de todos os nossos pontos de
vista, passamos a ―nunca dizer não, sempre tentando satisfazer os outros,
sempre dizendo ―sim, ainda que precisemos ir às últimas conseqüências.
Por outro lado, uma pessoa que ―nunca diz não só pode ser
―desonesta, porque diz que ―faz e ―dá muito mais do que ―tem e ―pode,
expondo-se sempre ao risco de ser tachada de hipócrita e, além de tudo, de não
realizar sua própria missão na Terra, porque se arvorou em correr atrás das
realizações dos outros.
―A obediência é o consentimento da razão.
Quem consente
alguma coisa permite que se faça ou não, conforme achar conveniente à sua
maneira de agir e pensar.
―A resignação é o consentimento do coração, ou
melhor, os sentimentos falarão mais alto e a criatura abdicará o seu direito em
favor de alguém, ou de uma causa, por livre e espontânea vontade, já que o
direito era de sua competência.
Efetivamente, a obediência e a resignação, virtudes às quais
Jesus de Nazaré se referia, não são aquelas que ―os homens as confundem
erradamente com a negação do sentimento e da vontade, conforme bem define o
espírito Lázaro no texto em reflexão.
Lembremo-nos, portanto, de que servir nem sempre será
considerado virtude, visto que essa postura de nossa parte pode simplesmente
estar camuflando uma obrigação compulsiva de agradar a todos, bem como pode
estar desviando-nos de nossa real missão na Terra, que é crescer e amadurecer
espiritualmente.
ESPÍRITO SANTO NETO, Francisco pelo Espírito Hammed. Renovando
Atitudes, Cap. 15.
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