A Mulher Ante o Cristo
Emmanuel
Toda vez nos disponhamos a considerar a mulher em plano
inferior, lembremo-nos dela, ao tempo de Jesus...
Há vinte séculos, com exceção das patrícias do Império,
quase todas as companheiras do povo, na maioria das circunstâncias, sofriam
extrema abjeção, convertidas em alimárias de carga, quando não fossem vendidas
em hasta pública.
Tocadas, porém, pelo verbo renovador do Divino Mestre,
ninguém respondeu com tanta lealdade e veemência aos apelos celestiais...
Entre as que haviam descido aos vales da perturbação e da
sombra, encontramos em Madalena o mais alto testemunho de soerguimento moral,
das trevas para a luz; e entre as que se mantinham no monte do equilíbrio
doméstico, surpreendemos em Joana de Cusa o mais nobre expoente de concurso e
fidelidade.
Atraídas pelo amor puro, conduziam à presença do Senhor os
aflitos e os mutilados, os doentes e as crianças. E, embora não lhe integrassem
o circulo apostólico, foram elas — representadas nas filhas anônimas de
Jerusalém — as únicas demonstrações de solidariedade espontânea que o
visitaram, desassombradamente, sob a cruz do martírio, quando os próprios
discípulos debandavam.
Mais tarde, junto aos continuadores da Boa-Nova,
sustentaram-se no mesmo nível de elevação e de entendimento.
Dorcas, a costureira jopense, depois de amparada por Simão
Pedro, fez-se mais ativa colaboradora da assistência aos infortunados.
Febe é a
mensageira da epístola de Paulo de Tarso aos romanos.
Lídia, em Filipos, é a
primeira mulher com suficiente coragem para transformar a própria casa em
santuário do Evangelho nascituro.
Lóide e Eunice, parentas de Timóteo, eram
padrões morais da fé viva.
Entretanto, ainda que semelhantes heroínas não tivessem de
fato existido, não podemos olvidar que, um dia, buscando alguém no mundo para
exercer a necessária tutela sobre a vida preciosa do Embaixador Divino, o
Supremo Poder do Universo não hesitou em recorrer à abnegada mulher, escondida
num lar apagado e simples...
Humilde, ocultava a experiência dos sábios; frágil como o
lírio, trazia consigo a resistência do diamante; pobre entre os pobres,
carreava na própria virtude os tesouros incorruptíveis do coração, e, desvalida
entre os homens, era grande e prestigiosa perante Deus.
Eis o motivo pelo qual, sempre que o raciocínio nos induza a
ponderar quanto à glória do Cristo — recordando, na Terra, a grandeza de nossas
próprias mães —, nós nos inclinaremos, reconhecidos e reverentes, ante a luz
imarcescível da Estrela de Nazaré.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel. Do livro
"Religião dos Espíritos", FEB.
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