Minutos de Paz !

terça-feira, março 04, 2014

As profissões de minha mãe - Momento Espírita






As profissões de minha mãe



Minha mãe foi, com certeza, a mulher que mais profissões exerceu em toda sua longa vida, sem ter sequer concluído o curso fundamental.


Tudo que ela aprendeu foi nas primeiras quatro séries que cursou, quando criança. 


Contudo, era de uma sabedoria sem par.


Descobri que minha mãe era uma decoradora de grandes qualidades, à medida que eu crescia e observava que ela sempre tinha um local no melhor móvel da casa, para as pequenas coisas que fazíamos na escola, meu irmão e eu.


Em nossa casa, nunca faltou espaço para colocar os quadrinhos, os desenhos, os nossos ensaios de escultura em barro tosco.


Tudo, tudo ganhava um espaço privilegiado. E tudo ficava lindo, no lugar que ela colocava.


Descobri que minha mãe era uma diplomata, formada na melhor escola do mundo (nosso lar), todas as vezes que ela resolvia os pequenos conflitos entre meu irmão e eu.


Fosse a disputa pela bicicleta, pela bola, pelo último bocado de torta, de forma elegantemente diplomática ela conseguia resolver. 


E a solução, embora pudesse não agradar os dois, era sempre a mais viável, correta, honesta e ponderada.


Descobri que minha mãe era uma escritora de raro dom, quando eu precisava colocar no papel as ideias desencontradas de minha cabecinha infantil.


Ela me fazia dizer em voz alta as minhas ideias e depois ia me auxiliando a juntar as sílabas, compor as palavras, as frases, para que a redação saísse a contento.


Descobri que minha mãe era enfermeira, com menção honrosa, toda vez que meu irmão e eu nos machucávamos.


Ela lavava os joelhos ralados, as feridas abertas no roçar do arame farpado, no cair do muro, no estatelar-se no asfalto.


Depois, passava o produto antisséptico e sabia exatamente quando devia usar somente um pequeno bandaid, o curativo ou a faixa de gaze, o esparadrapo.


Descobri que minha mãe cursara a mais famosa Faculdade de Psicologia, quando ela conseguia, apenas com um olhar, descobrir a arte que tínhamos acabado de aprontar, o vaso que tínhamos quebrado.


E, depois, na adolescência, o namoro desatado, a frustração de um passeio que não deu certo, um desentendimento na escola.


Era uma analista perfeita. Sabia sentar-se e ouvir, ouvir e ouvir. Depois, buscava nos conduzir para um estado de espírito melhor, propondo algo que nos recompusesse o íntimo e refizesse o ânimo.



Era também pós-graduada em Teologia. 


Sua ciência a respeito de Deus transcendia o conteúdo de alguns livros existentes no mundo.


O seu era o ensino que nos mostrava a gota a cair da folha verde na manhã orvalhada e reconhecer no cristal puro, a presença de Deus.


Que nos apontava a fúria do temporal e dizia: Deus vela. 


Não se preocupem.


Que nos alertava a não arrancar as flores das campinas porque estávamos pisando no jardim de Deus. 


Um jardim que Ele nos cedera para nosso lazer, e que devíamos preservar.


Ah, sim. 


Ela era uma ecologista nata. 


E plantava flores e vegetais com o mesmo amor. 


Quando colhia as verduras para as nossas refeições, dizia: Não vamos recolher tudo. 


Deixemos um pouco para os passarinhos. Eles alegram o nosso dia e merecem o seu salário.


Também deixava uns morangos vermelhinhos bem à mostra no canteiro exuberante, para que eles pudessem saboreá-los.


Era sua forma de manifestar sua gratidão a Deus pelos Seus cuidados: alimentando as Suas criaturinhas.


Minha mãe, além de tudo, foi motorista particular. 


Não se cansava de ir e vir, várias vezes, de casa para a escola, para a biblioteca, para o dentista, para o médico, para o teatro e de volta para casa.


Também foi exímia cozinheira, arrumadeira, passadeira, babá. E tudo isto em tempo integral.


Como ela conseguia, eu não sei. 


Somente sei que agora ela está na Espiritualidade. 


E Deus, como recompensa, por tantas profissões desempenhadas na Terra, lhe deu uma missão muito, muito especial: a de anjo guardião dos filhos que ficaram na bendita escola terrena.





Redação do Momento Espírita. Disponível em www.momento.com.br.








Dedicamos este post à nossa  mãe, que nesta data estaria completando mais uma data natalícia, mas Deus à convidou para perfumar o reduto de outros amores distantes.

Nossa mãe, "não foi" , mas continua a ser uma dessas almas perfumadas com que algumas pessoas são contempladas , que no dizer de Ana Jácomo:


"Algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. 

Minha avó era alguém assim. 

Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. 

A minha , foi uma delas. 

E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. 

E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de mãe  para nos falar de amor".










Almas perfumadas

Ana Cláudia Saldanha Jácomo (Para minha avó Edith)


Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.


Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.


Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.


Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.


Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. A minha, foi uma delas. E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Edith, para me falar de amor.




Disponível em http://www.contandohistorias.com.br/historias/2006549.phpAcesso: 03 MAR 2014.

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