Agradecer para Servir
Maria Dolores
Agradece, alma querida e boa,
Ao Doador das Luzes e dos Bens
Os dotes naturais que te amparam a vida
E as concessões que tens.
Observa a palavra
Em que a força do verbo se te fez,
Quando existe no mundo tanta gente
Em penosa mudez.
Contempla as próprias mãos que podem trabalhar
Em toda atividade nobre e amiga,
Quando se enxerga, em toda parte,
Tanta mão que mendiga.
Reflete nos teus olhos,
Dos quais a luz é a doce companheira,
Quando tantos irmãos vemos na Terra
Suportando a cegueira.
Toca o cérebro claro
Em que o discernimento se te apura
E lembra a multidão dos companheiros
Nos desvãos da loucura.
Certamente, alma boa,
Deus, o Dispensador dos Recursos Supremos,
Não tem culpa do pranto que há na estrada
Que nós mesmos fazemos.
Saibamos, entretanto, agradecer
Os tesouros e dons de que nos faz dispor,
A fim de que saibamos levantar
A grandeza da Vida e a redenção do Amor.
Poesia do Mais Viver
Irmão Saulo
Enquanto os poetas da Terra se entregam à procura de originalidades técnicas, de formas novas de expressão poética, os do Além utilizam a poesia na sua essência eterna, como meio de comunicação no plano das almas.
A poesia terrena busca a perfeição formal, os efeitos sensoriais. A poesia terrena busca a orientação, o esclarecimento, a elevação das criaturas.
Todas as formas poéticas são igualmente válidas.
Castro Alves se manifesta em versos condoreiros, Cornélio Pires em trovas e sonetos caipiras, Cyro Costa em alexandrinos retumbantes, Oswald de Andrade e Mário de Andrade em versos livres, cada qual no seu estilo pessoal.
Mas o tema de todos é o Espírito e sua ascensão através da existência, nos rumos da transcendência.
Os homens burilam a forma, aprimoram a expressão, renovam as posições éticas.
É a sua função no plano sensorial.
Os Espíritos se interessam pela comunicação espiritual, pelo despertar das consciências, pela demonstração da sobrevivência.
É com estes objetivos que Maria Dolores continua poetando após a morte.
Seus poemas mantém uma constante formal já bastante conhecida no meio espírita, e a constante substancial varia nas nuanças de uma temática permanente que é a da mensagem moral.
O que interessa a ela, como a todos os poetas do Além, não é a poesia do viver, a captação estética do cotidiano, mas a poesia do mais viver, o chamado a uma compreensão mais profunda do sentido da vida.
Ante a revolta comum do ser existencial, sempre insatisfeito com as condições e limitações do seu viver diário, Maria Dolores levanta o problema da gratidão do ser transcendente ao “Doador das Luzes e dos Bens” que todos recebemos e usufruímos na existência.
Há em nós, como explica “O Livros dos Espíritos”, o ser do corpo e o ser da alma.
Aquele vive e este último existe.
Viver é condicionar-se a forma biológica terrena, existir é transcender, como o demonstram os modernos princípios existenciais.
Para ativar a transcendência, Maria Dolores estabelece o confronto das situações de desajuste com as situações normais, apelando ao nosso entendimento e convocando-nos “à grandeza da Vida e à redenção do Amor”.
Os “tesouros de dons” que possuímos, que nos foram concedidos pelo Doador, e que utilizamos com displicência, senão com desprezo, devem despertar-nos para a compreensão da “grandeza da Vida”.
As deficiências que afetam milhões de criaturas (nossos semelhantes) ao nosso redor e no mundo, e das quais fomos preservados, devem acordar em nós os sentimentos de humildade e levar-nos “à redenção do Amor”.
Essa redenção não é apenas uma figura poética, uma simples forma de expressão.
É a libertação do egoísmo (do amor fechado em nós e por nós, com exclusivismo) que nos redimirá da ingratidão para com o Doador e nos iniciará na transcendência horizontal do amor ao próximo da qual fácil- mente nos ergueremos à transcendência vertical do amor a Deus.
Essa a técnica do “mais viver”, do viver acima da vida comum, que o seu poema nos oferece na forma de uma canção.
XAVIER, Francisco Candido; PIRES, Herculano. Chico Xavier pede licença.
Espíritos Diversos, Cap 7.
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