Minutos de Paz !

quarta-feira, junho 25, 2025

As Estatuetas - Hilário Silva



As Estatuetas

Hilário Silva

Cap. X – Item 14


O diálogo, à noite, entre as duas senhoras, continuava na copa:


– Você, minha filha, deve perdoar, esquecer... 


Lá diz o Evangelho que costumamos ver o argueiro no olho do vizinho, sem ver a trave dentro do nosso...


– Mas, mamãe, foi um insulto! 


O moço parou à frente da janela, viu as minhas estatuetas e atirou a pedra!


E Dona Balbina, senhora espírita de generoso coração, prosseguia falando à filha, Dona Rogéria:


– Ele é um pobre rapaz obsediado.


– História! É uma fera solta, isto sim!


– Mas Dona Margarida, a mãe dele, foi sempre amiga...


– Isso não vem ao caso... 


Cada qual é responsável pelos próprios atos. 


A senhora sabe que ele é maior.


– Precisamos perdoar para sermos perdoados...


– Ser bom é uma coisa, e outra coisa é ser tolo! 


Darei queixa à polícia... 


Somente não queria fazê-lo sem ouvi-la; 


contudo, Fábio e eu estamos decididos. 


Meu Fábio já anda cansado do volante...


Pobre marido!... 


Dinheiro cavado em caminhão é duro de ganhar...


– Meu conselho, filha, é desculpar e desculpar...


– Mas o prejuízo é de dois mil cruzeiros, além da injúria!


– Mesmo assim, o perdão é o melhor remédio.


– Ah! Que será do mundo, assim, sem corrigenda, sem justiça?


Nesse instante, alguém bate à porta.


Ambas atendem.


O portador comunica:


– Um desastre! 


O senhor Fábio trombou uma casa e a parede caiu!


Mãe e filha correm para o local, que se encontra entulhado de multidão, e veem a casa acidentada. 


É justamente a moradia de Dona Margarida, a mãe do rapaz que atirara a pedra.


O caminhão, num lance estouvado, derribara uma parede lateral e penetrara, fundo, inutilizando todo o mobiliário da sala de refeições.


Apagara-se a luz no quarteirão e as duas, sem que ninguém as reconhecesse, podiam escutar Dona Margarida, que sustentava uma vela acesa, diante do guarda de trânsito:


– Peço-lhe – dizia ao fiscal – não abrir processo algum. 


Não quero reclamações.


– Mas, Dona Margarida – insistia o funcionário –, a senhora vai ter aqui um prejuízo para mais de quarenta contos!


– Não importa. 


Deus dará jeito. 


“Seu” Fábio e Dona Rogéria são meus amigos de muito tempo.


As duas senhoras, porém, não puderam continuar ouvindo, pois a voz irritada de Fábio elevou-se da multidão e era necessário socorrê-lo, porque o infeliz estava ébrio.


XAVIER, Francisco Cândido; Waldo Vieira Por Espíritos Diversos. Espírito da verdade, cap 30. Estatuetas:  Ilustração Reproduzida da Internet. 


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