Marco Divisório
Joanna de Ângelis
Houve na Roma antiga um templo dedicado a Jano, que durante
um milênio somente fechou as suas portas nove vezes, correspondentes aos
períodos em que a República esteve em paz.
O deus singular era representado com
duas faces, o que o tornou conhecido como bifronte, atributo conseguido de
Saturno, a quem favorecera, e que o dotara com a capacidade de penetrar o
passado e o futuro, conforme narra a mitologia, ao se referir ao mais antigo
rei do Lácio conhecido,
*
Utilizamo-nos da lenda para considerar a visão cristã como
possuidora da possibilidade de examinar o passado e o futuro, ensejando
valiosas meditações.
Em Saulo, o jovem atormentado, que se fizera sicário,
dormitava aquele Paulo que, abrasado por Jesus, se tornou o arauto da Boa Nova
por todas as terras da antiguidade.
Em Jeziel, o israelita pulcro e sofrido, se encontrava em
potencial o- nobre Estêvão, que se faria o excelso mártir da Mensagem nascente,
abrindo os braços de encorajamento na direção do futuro.
Em Madalena, a mulher obsidiada e trôpega nas aspirações
morais, vivia enclausurada a impoluta faculdade de amar até o sacrifício,
doando-se à Causa do Cristo com abnegação dificilmente encontrada.
Em Simão, temeroso e reticente, vibrava o apóstolo Pedro,
que se entregaria à fé rutilante, após o sacrifício de Jesus, de modo a selar
com sangue a audácia de porfiar fiel até o fim, na expansão do Reino de Deus
entre as criaturas de Roma.
Em Joana de Cusa, a matrona romana, se agitava a discípula
fiel que doaria a vida às labaredas pela honra de ser fiel ao Mestre.
*
Era como se o passado de dificuldades e viciações
argamassasse o futuro com o cimento divino do amor, transformando-se em base de
sustentação aos grandes investimentos da luz na direção do Infinito.
No passado, queixas, lamentos, enfermidades, dissensões.
No futuro, esperanças, gratidão, saúde e paz.
Ontem, óbice, desânimo, perturbação, agonia.
Amanhã, aptidão, alento, ordem, serenidade.
Antes, o espírito alquebrado e o coração ralado de dores e
ansiedades incontáveis.
Depois, o ser renovado pela mente voltada ao dever e os
sentimentos cantando júbilos.
A Doutrina Cristã é o templo da fé aberto perenemente,
facultando a paz e acolhendo o amor.
E o Espiritismo que no-la traz de volta, na atualidade, é o
grande hoje, marco divisório dos tempos que separam o antes e o depois do
encontro com Jesus.
Por essa forma, se as tuas aspirações superiores ainda não
se converteram em flores de alegria e as ásperas batalhas teimam por manter-te
nos embates duradouros não desfaleças. O passado de sombras para ser vencido
necessita de ser retificado e os abusos agasalhados demoradamente requerem
disciplina espartana para serem superados.
Importa considerar que já não és o que eras, nem sentes o
que sentias, embora, não poucas vezes, o assédio do hábito te atormente as
pausas de equilíbrio.
Examina o passado para verificação do que te compete
refazer, mas não te fixes nele.
Prepara o futuro através de atitudes corretas mas não te
angusties pela chegada dele.
Vence a hora de cada hora, realizando o que possas, através
de como possas, lidando infatigável na república do espírito em atribulação.
Os acontecimentos vividos são experiências para as
realizações a viver.
Jesus é o teu divisor de águas.
Kardec é o condutor do teu amanhã. Eleva-te ao Mestre
através do Seu apóstolo moderno e fecha às paixões o templo da tua alma, em
caráter definitivo, aspirando à glória do Mundo Maior que a todos nos espera.
*
"Ninguém, tendo posto a mão ao arado e olhando para
trás, é apto para o reino de Deus". Lucas: capítulo 9º, versículo 62.
*
"Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que
pudésseis gozar a luz do Espiritismo". Evangelho Segundo o Espiritismo -
Capítulo 15º - Item 10, parágrafo 2.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas.
Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 47.
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