O oceano da verdade
Eros
O aprendiz sincero da Verdade acercou-se do Mestre e
propôs-lhe:
- A calúnia fere-me a alma e a incompreensão deliberada
persegue-me a vida.
Sinto-me aturdido e cansado.
Que fazer?
- Alegrar-se - respondeu o sábio - por estar sofrendo.
- Todavia, sou inocente.
- Por isso mesmo deves rejubilar-te.
O aplauso à inocência
vem da consciência tranqüila.
Quando alguém sofre a imediata correção ou
censura ao erro praticado, reabilita-se.
Mas se é inocente daquilo que lhe
acusam, deve sentir-se feliz, porque a justiça assim o alcança, convidando-o a
reparar delitos outros que ficaram ignorados.
- Embora reconheça a justeza do ensinamento, sofro com as
dificuldades que me são postas à frente.
Como proceder?
Fazendo uma pausa para reflexionar, elucidou, o santo:
- Humilde nascente dágua, oculta num bosque feliz, vivia
ignorada e tranqüila.
Oportunamente, um viandante, cansado e sedento,
encontrou-a e refrescou-se, abençoando-a após.
“Animada com o fato, a fonte rogou a Deus que lhe permitisse
crescer, porquanto gostaria de atender os animais, as aves e alguns passantes
combalidos"...
“A Divina Misericórdia ouviu-a e produziu chuvas que lhe
aumentaram o potencial, fazendo-a transbordar e tomando-a um córrego generoso a
alongar-se por sobre a terra gentil".
“Entusiasmada, por atender as necessidades a sua volta,
atendendo também as plantas por onde passava, a antiga nascente exorou mais
força, porquanto gostaria de alcançar uma área maior e beneficiar mais"....
“A Suprema Sabedoria concordou, facultando que mais chuva
caísse no seu ponto de origem e aumentando-lhe o caudal propiciou-lhe alcançar
distâncias que antes sequer eram conhecidas"..
“Numa curva, porém, mais acentuada do seu curso, o riacho
encontrou seixos e pedregulhos que lhe pareciam impedir o avanço"..
Porque
tivesse força carregou-os, deixando-os à margem ou fixando-os ao leito por onde
corria.
“Pelo caminho foi encontrando outros córregos aos quais uniu
suas forças e prosseguiu"..
“Mais à frente, no entanto, deparou-se com um tronco tombado
no seu curso, que lhe obstaculizava o avanço"....
“Sem qualquer reclamação aquietou suas águas e cresceu até
transpor o impedimento, seguindo adiante e, por fim, depois de muitos desafios
alcançou o mar, com o qual misturou suas águas.”
Fazendo um silêncio oportuno para melhor facilitar ao
queixoso a compreensão do ensinamento, concluiu:
- Todo aquele que busca o oceano da Verdade libertadora,
deve crescer e avançar na sua direção.
Quando surgirem problemas e dificuldades
que não possam ser afastados, é necessário silenciar, trabalhar e crescer
ultrapassando os óbices, em razão do destino à frente, que deve ser
conquistado.
“Assim, nunca deve relacionar os desafios nem os obstáculos"..
Antes cumpre-lhe alegrar-se com o terreno já percorrido, estimulando-se para
vencer o trecho que se alonga à espera para ser vencido.
“Diante de novos dilemas é necessário orar para que a chuva
do auxilio superior lhe chegue, fortalecendo-o com os recursos que lhe
proporcionem a tudo superar, até o momento do grande encontro, no qual se
plenifica e tranquiliza"..
“Desse modo, segue tu, adiante, fazendo o mesmo."
O discípulo compreendeu a lição e prosseguiu, antegozando o
momento de penetrar no oceano da Verdade.
Não mais se deteve na queixa ou na amargura, na dor ou no
ressentimento, despreocupando-se quanto à necessidade da defesa pessoal ou da
justificação, pois que a sua era a meta superior que o esperava e não as falsas
alegrias do aplauso transitório que no momento disputava.
FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Eros. Do livro Em algum
lugar do futuro, 2.ed, 1987, p. 09-10.
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