Diálogo sobre o amor
Eros
A jovem discípula acercou-se do mestre, e, ruborizando-se,
pediu-lhe que falasse do amor.
O sábio sorriu, e, desculpando-se, perguntou-lhe o que ela
considerava como sendo o amor.
Emocionando-se, a aprendiz explicou:
- Compreendo o amor, como sendo a ânsia que experimentam as
praias, que aguardam os beijos sucessivos das ondas contínuas do mar;
“como a sofreguidão que tem a raiz de introduzir-se no solo,
a fim de sustentar a planta;
“como a expectativa da rocha que anela pela carícia do
vento, embora se desgaste com isso;
“como o desejo infrene da terra crestada, pela generosidade
da chuva;
“como a flauta aguarda pelo sopro que lhe arranca das
entranhas a doce melodia;
“como o barro esquecido pede ao oleiro que lhe dê forma e
beleza;
“como a semente que necessitava despedaçar-se, para libertar
a vida;
“como a lâmpada apagada que exige a energia para brilhar.
“O amor é o sangue novo para o coração e o vinho bom para
aquecer a criatura, quando o frio lhe enregela a vida.
“Assim vejo e sinto o amor.
“E vós, como vedes o amor?"
- O amor é o doce e compreensivo companheiro da criatura em
todos os dias da sua vida.
“Se esta é jovem, ei-lo que se apresenta, ardente e
apaixonado, como no teu caso, mas que segue adiante.
'-—“O amor é calmo e ameno.
“Não incendeia paixões; dulcifica-as.
“Confundido com o desejo, permanece, quando este passa.
“Nunca se irrita; porque espera.
“Considerado como instinto, persiste, quando descoberto pela
razão.
“Jamais perturba; pois que felicita e produz harmonia.
“O amor é claridade que permanece; é pão que nutre; é vida
que se irradia da Vida.
“Mesmo quando não identificado, encontra-se presente,
porque, sem ele, a vida não existe ou perderia o sentido de ser.”
A jovem ardente, empalideceu, e, submissa, à voz do amor,
pediu ao mestre:
- Ensinai-me a amar, eu que agora corro em busca do amor,
sem dar-me conta que, em mim, ele se deve irradiar, abrangente, em todas as
direções.
- Não te apresses, no amor, e descobrirás que já começaste a
amar, quando sentires necessidade de doar e doar-te sem desejares receber nada
em retribuição.
Quando a dúvida lhe chegue, maliciosa, indague ao amor qual
a conduta a seguir.
FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Eros. Do livro Em
algum lugar do futuro, 2.ed, 1987, p. 04.
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