Boneca
Narcisa Amália De Campos*
Boneca!... Era uma vez a bonequinha humana,
Borboleta a voejar, sob véus de neblina,
Primavera de sonho e graça matutina,
Transfundidas na carne em rósea filigrana...
Bela e ardente, dançou, qual brejeira cigana,
Nos laços da ilusão que se adensa e esborcina ;
Mulher, envelheceu disfarçada em menina,
Alegre bibelô na ribalta mundana.
Nem renúncia no amor, nem lar de que se importe.
Mas, bailando febril, encontra, um dia, a morte,
Na dor que lhe crepeia o coração e a estrada...
A libélula cai sobre o charco profundo
E, no visco de lama, ouve apenas do mundo :
– “Boneca!... Era uma vez a boneca doirada!”
XAVIER, Francisco Cândido Diversos Espíritos. Pelo Espírito
Narcisa Amália De Campos . Antologia dos imortais.
(*) Poetisa de grande formosura, cronista e tradutora. «Nas
letras» – di-lo Antônio Simões dos Reis (Narcisa Amália, pág. 15) – «foi
verdadeira deusa, em prosa e verso cantada, com exaltação, por tudo quanto
houve de mais representativo na época.»
O próprio Imperador D. Pedro II, quando em Resende, fez questão
de conhecê-la pessoalmente, fato que ocorreu em 1874. Segundo Artur de Almeida
Torres (Poetas de Resende, pág. 67), as poesias de Amália «se caracterizam pela
delicadeza de sentimento, pela espontaneidade do estro e pela riqueza musical
dos versos». Redigiu o jornal resendense A Gazetinha, tendo colaborado em
outras folhas de Resende, bem como de Niterói, Rio e S. Paulo.
«Foi a primeira mulher, entre nós,» – diz Edgard Cavalheiro
(Pan. II, pág. 296) – «a erguer a voz em defesa de suas irmãs de sexo, numa
tentativa feminista avançada para o meio acanhado e rotineiro de então.» Depois
de residir em Resende, passou para o Rio de Janeiro, onde se consagrou ao
magistério, até que veio a 'desencarnar, cega e paralítica, com setenta e dois
anos de idade. (S. João da Barra, Estado do Rio, 3 de Abril de 1852 – Rio de
Janeiro, GB, 24 de Junho de 1924.) BIBLIOGRAFIA: Nebulosas, poesias.
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