Maria Boneca
Epiphanio Leite
(Versos dedicados à dama feudal que abraçamos por devotada
amiga, há três séculos, e que hoje expia, na via pública, sob a alcunha de
Maria Boneca, o delito de haver exterminado o filho jovem que lhe estorvava a
existência de irresponsabilidade e prazer).
Reencontrei-te, por fim, esmolando na rua.
Nada recorda em ti a dama do castelo.
Lembro-me!… Dás à fossa o filho louro e belo,
Esqueces, gozas, ris… E a festa continua…
Depois, a morte vem… A memória recua…
Escutas em ti mesma o trágico libelo,
Choras, nasces de novo e trazes por flagelo
A sede de ser mãe que a demência acentua!…
Como dói ver-te agora os tristes olhos baços!
Guardas, louca de amor, um boneco nos braços,
Em torno, há quem te apupe a trilha merencória…
Mas bendize, senhora, a lei piedosa e austera,
Alguém vela por ti: o filho que te espera
E há-de levar-te aos Céus em cânticos de glória!…
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Epiphanio Leite.Do Livro: Mãe.
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