83-O PÂNTANO
Casimiro Cunha
É um quadro sempre inquietante que inspira pena e cuidado quando vemos no caminho o pântano abandonado.
Enquanto, em redor de si, há cantos que a vida entoa, ele espera ansiosamente o esforço que aperfeiçoa.
Todo o ar é pestilento em sua fisionomia, nos seus bancos lamacentos, ninguém descansa ou confia.
Muitos poucos se aproximam do barro de sua imagem; é ferida cancerosa no organismo da paisagem.
Mas, um dia, o lavrador dá-lhe atenção, dá-lhe drenos, e o pântano desolado é o melhor dos seus terrenos.
Onde havia lodo e lama, águas sujas e amargosas, os legumes são mais ricos, as flores mais perfumosas.
Essas terras desprezadas, tão pobres e desiguais, ensinam, em toda parte, que Deus é o melhor dos pais.
Entre as quedas dolorosas, nos erros e nos desvios, nós somos, na Criação, pontos tristes e sombrios.
Nossa ideia de virtude, a mais bela em sentimento, é a que nasce nos monturos da lama do sofrimento.
Deus, porém, que é o Pai Amigo, jamais nos deixou a sós, Jesus é o bom lavrador, e o pântano somos nós.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza. São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 83, p.84.
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