95-O VAU
Casimiro Cunha
Por benfeitor venerável, no seio da natureza, rola o rio caudaloso escondendo a profundeza.
Enquanto busca reserva, guardando seu próprio leito, ninguém se arrisca à passagem sem cuidado e sem respeito.
O rio jamais se nega a ceder na travessia, mas todos se acercam dele com a máxima cortesia.
Socorrem-se os viajantes do auxílio de embarcação, e espera-se a ponte amiga como justa construção.
Mas, se um dia, por descuido, o rio apresenta o vau, ai dele!
O destino agora é triste, amargoso e mau.
Ninguém lhe receia as águas noutro tempo respeitadas; invadem-nas cavaleiros, carros, toras e boiadas.
As correntes que eram puras, e amadas por justa fama, rolam sujas e insultadas de lodo, de lixo e de lama.
A ponte dorme em projeto e o rio, embora a beleza, depois que exibiu o vau, nunca mais teve defesa.
As nossas almas também são como o rio profundo...
A zona de intimidade precisa ocultar-se ao mundo.
O mal quer turvar-nos sempre.
Vigia, resiste e vence-o.
Se queres respeito e paz, não te esqueças do silêncio.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza.São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 95, p.96.
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