Família
Emmanuel
A família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada
como o centro essencial de nossos reflexos.
Reflexos agradáveis ou
desagradáveis que o pretérito nos devolve.
Certo, não incluímos aqui os Espíritos pioneiros da evolução
que, trazidos ao ambiente comum, superam-no, de imediato, criando
o clima mental que lhes é peculiar, atendendo à renovação de que se fazem
intérpretes.
Comentamos a nossa posição no campo vulgar da luta.
Cada criatura está provisoriamente ajustada ao raio de ação
que é capaz de desenvolver ou, mais claramente, cada um de nós apenas,
pouco a pouco, ultrapassará o horizonte a que já estenda os reflexos que
lhe digam respeito.
O homem primitivo não se afasta, de improviso, da própria
taba, mas aí renasce múltiplas vezes, e o homem relativamente civilizado
demora-se longo tempo no plano racial em que assimila as experiências de que
carece, até que a soma de suas aquisições o recomende a diferentes realizações.
É assim que na esfera do grupo consangüíneo o Espírito
reencarnado segue ao encontro dos laços que entreteceu para si próprio,
na linha mental em que se lhe caracterizam as tendências.
A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum
modo, a natural aglutinação dos espíritos que se afinam nas mesmas
atividades e inclinações.
Um grande artista ou um herói preeminente podem nascer em
esfera estranha aos sentimentos nos quais se avultam.
É a manifestação do gênio
pacientemente elaborado no bojo dos milênios, impondo os reflexos da sua
individualidade em gigantesco trabalho criativo.
Todavia, na senda habitual, o templo doméstico recine
aqueles que se retratam uns nos outros.
Uma família de músicos terá mais facilidade para recolher
companheiros da arte divina em sua descendência, porque, muita vez, os
Espíritos que assumem a posição de filhos na reencarnação, junto deles,
são os mesmos amigos que lhes incentivavam a formação musical, desde o
reino do Espírito, refletindo-se reciprocamente na continuidade da ação em que
se empenham através de séculos numerosos.
É ainda assim que escultores e poetas, políticos e médicos,
comerciantes e agricultores quase sempre se dão as mãos, no culto dos
melhores valores afetivos, continuando-se, mutuamente, nos genes familiares,
preservando para si mesmos, mediante o trabalho em comum e segundo a lei do
renascimento, o patrimônio evolutivo em que se exprimem no espaço e no
tempo.
Também é o lar, de conformidade com o mesmo principio de sintonia, que
vemos dipsomanos e cleptomaníacos, tanto quanto delinqüentes e
enfermos de ordem moral, nascendo daqueles que lhes comungam espiritualmente
as deficiências e as provas, porqüanto muitas inteligências transviadas se
ajustam ao campo genético daqueles que lhes atraem a companhia, por força dos
sentimentos menos dignos ou das ações deploráveis com que se oneram
perante a Lei.
A tara familiar, por esse motivo, é a resultante da
conjunção de débitos, situando-nos no plano genético enfermiço que merecemos, à
face dos nossos compromissos com o mundo e com a vida.
Dessa forma, somos
impelidos a padecer o retorno dos nossos reflexos tóxicos através de pessoas de
nossa parentela, que no-los devolvem por aflitivos processos de
sofrimento.
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e
alegria que já conseguimos tecer, por intermédio do amor louvavelmente
vivido, mas também as algemas de constrangimento e aversão, nas quais
recolhemos, de volta, os clichês inquietantes que nós mesmos plasmamos na memória do
destino e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício,
paciência e humildade, recursos novos com que faremos nova produção de reflexos
espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior,
conturbada e infeliz.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel. Pensamento
e Vida, cap.12, p.21-22.
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