Humildade
Emmanuel
A humildade, por força divina,
reflete-se, luminosa, em todos os domínios da Natureza, os quais expressam,
efetivamente, o Trono de Deus, patrocinando o progresso e a renovação.
Magnificente, o Sol, cada dia,
oscula a face do pântano sem clamar contra o insulto da lama; a flor, sem
alarde, incensa a glória do céu.
Filtrada na aspereza da rocha, a
água se revela mais pura, e, em seguida às grandes calamidades, a colcha de
erva cobre o campo, a fim de que o homem recomece a lida.
A carência de humildade, que, no
fundo, é reconhecimento de nossa pequenez diante do Universo, surgem na alma
humana doentios enquistamentos de sentimento, quais sejam o orgulho e a cobiça,
o egoísmo e a vaidade, que se responsabilizam pela discórdia e pela delinquência
em todas as direções.
Sem o reflexo da humildade,
atributo de Deus no reino do “eu”, a criatura sente-se proprietária exclusiva
dos bens que a cercam, despreocupada da sua condição real de espírito em
trânsito nos carreiros evolutivos e, apropriando-se da existência em sentido
particularista, converte a própria alma em cidadela de ilusão, dentro da qual
se recusa ao contato com as realidades fundamentais da vida.
Sob o fascínio de semelhante
negação, ergue azorragues de revolta contra todos os que lhe inclinem o
espírito ao aproveitamento das horas, já que, sem o clima da humildade, não se
desvencilha da trama de sombras a que ainda se vincula, no plano da animalidade
que todos deixamos para trás, após a auréola da razão.
Possuída pelo espírito da posse
exclusivista, a alma acolhe facilmente o desespero e o ciúme, o despeito e a
intemperança, que geram a tensão psíquica, da qual se derivam perigosas síndromes
na vida orgânica, a se exprimirem na depressão nervosa e no desequilíbrio
emotivo, na ulceração e na disfunção celular, para não nos referirmos aos
deploráveis sucessos da experiência cotidiana, em que a ausência da humildade
comanda o incentivo à loucura, nos mais dolorosos conflitos passionais.
Quem retrata em si os louros
dessa virtude quase desconhecida aceita sem constrangimento a obrigação de
trabalhar e servir, a benefício de todos, assimilando, deste modo, a bênção do
equilíbrio e substancializando a manifestação das Leis Divinas, que jamais
alardeiam as próprias dádivas.
Humildade não é servidão.
É, sobretudo, independência, liberdade
interior que nasce das profundezas do espírito, apoiando-lhe a permanente
renovação para o bem.
Cultivá-la é avançar para a
frente sem prender-se, é projetar o melhor de si mesmo sobre os caminhos do
mundo, é olvidar todo o mal e recomeçar alegremente a tarefa do amor, cada dia.
Refletindo-a, do Céu para a
Terra, em penhor de redenção e beleza, o Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura
e despediu-se dos homens pelos braços da Cruz.
XAVIER, Francisco Cândido pelo
Espírito Emmanuel. Pensamento e Vida, cap.24, p.41.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
“Deixe aqui um comentário”