Vocação
Emmanuel
A vocação é a soma dos reflexos da experiência que trazemos
de outras vidas.
É natural que muitas vezes sejamos iniciantes, nesse ou
naquele setor de serviço, diante da evolução das técnicas de trabalho que
sempre nos reclamam novas modalidades de ação; todavia, comumente, retomamos no
berço a senda que já perlustramos, seja para a continuação de uma
obra determinada, seja para corrigir nossos próprios caminhos.
De qualquer modo, o titulo profissional, em todas as
ocasiões, é carta de crédito para a criação de reflexos que nos enobreçam.
O administrador, o juiz, o professor, o médico, o artista, o
marinheiro, o operário e o lavrador estão perfeitamente figurados naquela
parábola dos talentos de que se valeu o Divino Mestre para convidar-nos
ao exame das responsabilidades próprias perante os empréstimos da Bondade
Infinita.
Cada espírito recebe, no plano em que se encontra, certa
quota de recursos para honrar a Obra Divina e engrandecê-la.
Acontece, porém, que, na maioria das circunstâncias, nos
apropriamos indebitamente das concessões do Senhor, usando-as no jogo
infeliz de nossas paixões desgovernadas, no aloucado propósito de nos
antepormos ao próprio Deus.
Daí a colheita dos reflexos amargos de nossa conduta, quando
se nos desgasta o corpo terrestre, com o doloroso constrangimento
do regresso às dificuldades do recomeço, em que o instituto da reencarnação
funciona com valores exatos.
E como cada região profissional abrange variadas linhas de
atividade, o juiz que criou reflexos de crueldade, perseguindo inocentes,
costuma voltar ao mesmo tribunal, onde exercera as suas luzidas funções, com
as lágrimas de réu condenado injustamente, para sofrer no próprio espírito
e na própria carne as flagelações que impôs, noutro tempo, a vítimas indefesas.
O médico que abusou das possibilidades que lhe foram entregues, retorna
ao hospital que espezinhou, como apagado enfermeiro, defrontado por ásperos
sacrifícios, a fim de ganhar o pão.
O grande agricultor que dilapidou as
energias dos cooperadores humildes que o Céu lhe concedeu, para os
serviços do campo, vem, de novo, à gleba que explorou com vileza de sentimento,
na condição de pobre lidador, padecendo o sistema de luta em que prendeu
moralmente as esperanças dos outros.
Artistas eméritos, que transformaram
a inteligência em trilho de acesso a desregramentos inconfessáveis, reaparecem
como anônimos companheiros do pincel ou da ribalta, debaixo de inibições
por muito tempo insolúveis, à feição de habilidosos trabalhadores de última
classe.
Mulheres dignificadas por nomes distintos, confiadas ao vicio e à
dissipação, com esquecimento dos mais altos deveres que lhes marcam a rota,
frequentemente voltam aos lares que deslustraram, na categoria de ínfimas
servidoras, aprendendo duramente a reconquistar os títulos veneráveis de
esposa e mãe...
E, comumente, de retorno suportam preterição e hostilidade,
embaraços e desgostos, por onde passem, experimentando sublimes
aspirações e frustrações amargosas, porquanto é da Lei venhamos a colher
os reflexos de
nossas próprias ações, implantados no ânimo alheio,
retificando em nós mesmos o manancial da emoção e da ideia, para que nos
ajustemos à corrente do bem, que parte de Deus e percorre todo o Universo para
voltar a Deus.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel. Pensamento
e Vida, cap.16, p.29-30.
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