17-A COVA
Casimiro Cunha
Raro é aquele que medita contemplando a terra impura, no trabalho peregrino da cova pequena e escura.
Assemelha-se à ferida sobre a leira dadivosa, indicio de golpes fundos da enxada laboriosa.
Mas, na essência, a cova simples, singela, desconhecida, é o altar da Natureza, celebrando a luz da vida.
É seio aberto à beleza, ao bem que se perpetua, a existência renovada que se eleva e continua.
É o sepulcro onde a semente, em sombra e separação, vai, morrendo, reviver nas bênçãos da Criação.
E eis que a vida se elabora nessa doce intimidade, renovando-se aos impulsos de força e imortalidade.
Depois do apodrecimento, germinação e esplendores, verdes galhos de esperança, tenros ninhos promissores.
Mais tarde, o tronco, a colheita na fartura indefinida...
Tudo, a obra generosa da cova humilde e esquecida.
Esse símbolo expressivo vem lembrar, à criatura, o campo do cemitério e o quadro da sepultura.
Inda aí, a cova amiga é sempre o sublime umbral, porta aberta ao crescimento no plano espiritual.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza. São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 17, p.16.
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